Um jovem morto, policiais militares acuados e dois ônibus e um lotação incendiados no Morro Santa Tereza. Sete mortes em um intervalo de 13 horas na Capital e um triplo homicídio em Alvorada. Em meio aos acontecimentos que sacudiram Porto Alegre e a Região Metropolitana durante a manhã e a tarde desta quinta-feira, o secretário estadual da Segurança Pública, Wantuir Jacini, cumpria compromissos na Expointer, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio.
Pela manhã, o secretário apresentou para prefeitos de Uruguai e Argentina e para representantes da Federação das Associações de Municípios do RS (Famurs) o decreto que institui as unidades de policiamento de fronteira no Estado, publicado no Diário Oficial do Estado na quarta-feira. À tarde, Jacini assinou convênio com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) liberando o uso da fazenda da BM em Passo Fundo para pesquisa agropecuária.
No intervalo entre uma agenda e outra, o secretário concedeu, por telefone, entrevista à reportagem de Zero Hora. Confira:
O senhor foi bastante criticado por estar na Expointer em meio aos acontecimentos desta quinta-feira. Pretende ir até o Morro Santa Tereza para acompanhar a condução das investigações? A situação lá está sob controle?
Acabei de receber (às 16h30min desta quinta-feira) a informação do comandante do policiamento da Capital (tenente-coronel Mário Ikeda) de que ele reforçou o policiamento lá para proteger toda aquela comunidade, não só agora como durante a noite toda também. Então, ele já tomou as providências para proteger a vida e a propriedade das pessoas no Santa Tereza.
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Na terça-feira de manhã, um adolescente foi morto a tiros em plena rua no Rubem Berta. No mesmo dia, à tarde, um homem foi morto no Bom Fim. Da tarde de quarta-feira até a manhã desta quinta-feira, sete pessoas foram assassinadas na Capital. Ainda tivemos esse episódio dos PMs acuados no morro e incêndio de dois ônibus e um lotação. E na tarde desta quinta-feira houve um triplo homicídio em Alvorada. Diante desse quadro, os gaúchos podem se sentir seguros?
Olhe só, a maioria dessas vítimas tinha antecedentes criminais, a maioria delas. Não se trata de pessoas que não tivessem antecedentes. Claro que é uma coisa que nos impacta, porque são muitas vítimas. Mas impactaria muito mais se as vítimas não tivessem antecedentes criminais. Dessas, a maioria tem. Então, é uma situação que impacta, mas não gera a mesma consternação que causaria se fossem pessoas que não tivessem antecedentes.
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Essa sequência de ocorrências é reflexo da greve dos servidores da Segurança Pública?
Agora não dá para avaliar isso porque nós estamos durante os acontecimentos. E qualquer avaliação que a gente faça quando as coisas estão ocorrendo é sempre prematura e não quero cometer equívocos nessas avaliações. Agora, posso dizer o seguinte: os dirigentes institucionais da Polícia Civil, da Brigada Militar, da perícia e da Susepe mantêm um permanente diálogo com os sindicatos e associações no sentido da manutenção dos serviços essenciais e de atender à sociedade. Porque uma coisa que tem de ficar bem clara é que a manifestação que está aí não é contra a sociedade. Ora, se não é contra a sociedade, as polícias têm de continuar protegendo a vida e o patrimônio das pessoas. Tenho recebido que os representantes sindicais e das associações estão compreendendo bem essa situação. Além do que, essa situação toda é por absoluta falta de dinheiro nos cofres do Estado. Não é porque o governo estivesse negociando aumento de salário ou qualquer outra coisa. O governo recebeu uma herança econômica perversa e está fazendo muitas ações para enfrentar. Claro que a crise econômica reflete em todo o governo e, como não poderia deixar de ser, está refletindo no plano estratégico e executivo da Segurança Pública. Isso é natural.
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Duas das sete mortes ocorreram em ações da Brigada. No caso de hoje, moradores denunciam que a vítima teria se rendido e teria levado um tiro pelas costas. Os PMs podem estar agindo fora da técnica em razão de estarem abalados psicologicamente pelo parcelamento de salários ou mesmo por estarem em menor número nas ruas em razão do aquartelamento?
Não. A questão do confronto com a criminalidade é uma coisa que acontece com certa frequência. Agora, o que tem de haver é a investigação para determinar e elucidar toda a ocorrência. O que não pode é os integrantes das instituições terem uma postura fora da lei e fora dos ditames legais e das técnicas empregadas. Com certeza as investigações já foram instauradas e vão esclarecer todos os fatos e a dimensão dos acontecimentos.
Até quando a tropa vai ter ânimo para continuar na rua com o salário parcelado?
O governo está tomando várias providências. Desde ontem (esta quarta-feira) o governador está em Brasília fazendo tratativas, participando de audiências. Existe uma dívida aqui em que o Estado devia R$ 9 bilhões ou R$ 11 bilhões, pagou R$ 25 bilhões e deve R$ 50 bilhões. Isso são coisas que têm de ser discutidas e analisadas e não se resolvem em um passe de mágica. Depende de muitas ações, muita conversa e também de providências junto ao Judiciário.
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Carlos Ismael Moreira
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