Foi sob a luz da superlua, na madrugada de ontem, que 20 policiais civis iniciaram aquela que, para o município de Guaíba, pode ser chamada de superoperação contra o tráfico de drogas. Olhando para o céu, a delegada Sabrina Teixeira desejou que o evento natural fosse um bom presságio para a investida nos bairros Cohab e Jardim Santa Rita. E foi.
Dezoito homens acabaram presos ao final da investigação iniciada há um ano. Nesse período, três agentes trabalharam sob total sigilo para trazer à tona uma organização criminosa que, até então, era tida quase como uma lenda urbana: todos falavam que existia, mas não havia provas.
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- Descobrimos uma organização que faz muita empresa sentir inveja. Com hierarquia, tarefas bem definidas, controle de gastos, de qualidade da droga e preocupação com a satisfação dos "clientes". O próprio líder fazia algumas entregas, para aqueles que eram VIPs - conta a delegada.
15 anos no ramo
Segundo a polícia, a organização era especializada em cocaína e chegava a lucrar R$ 30 mil por semana. A droga era vendida em Guaíba e região. Além dos pontos de tráfico no Bairro Cohab Santa Rita, também era usado um sistema de telentrega, o que levava a cocaína para consumidores de áreas nobres. Para garantir a qualidade, um elemento diferente: o degustador.
- Eles chamavam um degustador que experimentava e classificava a droga. A melhor era considerada A1. Essa ia para os melhores clientes - conta a delegada.
Policiais cumpriram 17 mandados de busca e apreensão e 16 de prisão. Outras duas pessoas foram presas em flagrante. Jerônimo Recuero Correa, 36 anos, é considerado o grande troféu da operação por ser apontado como líder da quadrilha. Seus homens de confiança também foram presos: seu irmão Laerte Recuero Correa, 32 anos, e Darlan da Silva Rodrigues, 23 anos.
Nas ligações interceptadas, Jerônimo gostava de enaltecer os seus 15 anos de experiência no ramo.
Momentos da operação
- Maconha Voadora: do lado de fora de um prédio na Cohab de Guaíba, policias que esperavam os colegas que haviam entrado quase foram atingidos por uma mochila jogada de uma janela. Dentro dela tinha quase
5kg de maconha.
- Falso mal-estar: uma mulher com mais de 60 anos, que embrulhava a cocaína para venda, dizia estar passando mal. Firme, a delegada diz para ela parar de "se fazer". O mal- estar desaparece e ela coopera com os policiais.
- Banho frio: os policiais praticamente desmontavam os locais que recebiam a operação. Em uma das residências, parte da cocaína foi encontrada dentro do chuveiro elétrico.
- Dinheiro frio: ao todo, R$ 10 mil foram recolhidos pelos policias. A maior parte do dinheiro foi encontrada dentro de uma geladeira.
- Alta do dólar: em uma das escutas, o suspeito apontado como líder reclamava da alta do dólar. A crise estaria espantando os compradores.