Em dezembro de 2002, eu estava entre os repórteres de todo o continente que cobriram na residência oficial de Olivos, na Grande Buenos Aires, a visita do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente da Argentina, Eduardo Duhalde. Lula sempre desfrutara de grande popularidade no país vizinho.
Uma repórter portenha chegou a me perguntar qual era o papel de dona Marisa Letícia nas decisões do presidente eleito - provavelmente tendo em mente a história argentina, onde Eva e Isabelita Perón, Chiche Duhalde e a futura Cristina Kirchner saíram da sombra dos maridos para adquirir autonomia de voo.
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É aparentemente uma lei da política que impopularidade doméstica não se transfira automaticamente ao Exterior, pelo menos no caso de líderes de grande projeção. Por mais que a imagem de Lula esteja desgastada, ele ainda desfruta de prestígio na Argentina, senão no mundo. Não há outra explicação para a disposição do candidato kirchnerista à presidência, Daniel Scioli, que lidera as pesquisas de intenção de voto em outubro, em se associar à figura de Lula.
Na quarta-feira, Lula acompanhará Scioli na inauguração de uma unidade de saúde na província de Buenos Aires e, na quinta, os dois estarão juntos quando o ex-presidente receber o título de doutor honoris causa da Universidade de La Matanza. Em entrevista ao jornal Página 12, no sábado, Lula lembrou sua longa amizade com os Kirchner e disse que torce pela vitória de Scioli.
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Em recente evento na Colômbia, o economista-chefe do Banco Itaú, Ilan Goldfajn, atribuiu ao "realismo mágico" típico da América Latina a recuperação da popularidade de Cristina Kirchner e o fato de Brasil e Chile terem revisto o curso da economia "com a ajuda de nossos bons amigos Joaquim Levy e Rodrigo Valdés" (respectivamente, ministros da Fazenda do Brasil e das Finanças do Chile).
Num encontro com senadores em agosto, Lula teria se queixado de que não pode ir a restaurantes com a mulher "nem em São Bernardo". A popularidade inercial permite-lhe participar de inaugurações na periferia de Buenos Aires. Não se deve fazer pouco do realismo mágico.
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