Turistas e moradores do litoral norte do Rio Grande do Sul foram surpreendidos na manhã desta segunda-feira com mais de 600 pinguins mortos espalhados entre Imara, em Imbé, e Quintão. Em Xangri-lá, um leão e um lobo marinho foram encontrados debilitados na beira da praia. A Patrulha Ambiental da Brigada Militar e o Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) foram acionados. O primeiro passou a monitorar a situação, mas não ficou no local acompanhando os animais. O segundo não tem plantão no feriado.
- Alguns técnicos estão de folga e um biólogo e o único veterinário estão em licença - explicou, pelo telefone, o biólogo do Ceclimar Ignacio Benites Moreno, que estava de folga no feriado.
Fenômeno do El Niño será um dos mais intensos desde 1950
Quem trabalha com animais marinhos não se assusta com o número parcial de mortos espalhados pela areia.
- Nessa época, é comum encontrar pinguins jovens que não conseguiram vencer as adversidades da primeira viagem em busca de alimentação. Isso é a seleção natural. Além disso, a previsão é de que o El Niño seja mais intenso neste ano, o que muda o padrão oceanográfico e causa mais dificuldades para que os animais possam retornar para a Patagônia, de onde vem a maioria - disse.
Robô disfarçado ajuda cientistas a estudar pinguins
Os animais não serão retirados da beira da praia. Ainda nessa semana, o Ceclimar deve contá-los, marcá-los com spray e monitorar a decomposição dos pinguins.
Já o leão e o lobo marinho que estão em Xangri-lá - um próximo a guarita 81 e outro a 100 - devem retornar sozinhos para o mar. O mesmo El Niño é a explicação para que eles tenham cansado e sido levados à areia.
- Eles só precisam de repouso e isso significa que as pessoas não devem ficar muito -erto, tirar fotos, tentar alimentar ou molhar. Eles podem ficar agressivos e até transmitir doenças. - apontou o Sargento Luciano Fernandes, do 1º Batalhão Ambiental da BM do município - Nós não podemos ficar lá protegendo - disse ao ser questionado sobre a possibilidade de alguém manter os curiosos longe.
Casos de aves marinhas mortas nesse período é comum
Em Xangri-lá, dois animais marinhos debilitados foram encontrados na beira da praia. Foto: Giane Sauer França / Arquivo Pessoal.
Uma vez por mês, a equipe da bióloga Maria Virgínia Petry percorre os 120 quilômetros que separam Balneário Pinhal e Mostardas. Entre maio e novembro, todos os anos, aves marinhas são encontradas mortas nessa área. Em geral, são pinguins e albatrozes que saem da Patagônia e vêm para Rio Grande do Sul e Santa Catarina em busca de alimentos. A maioria volta sem encontrar grandes problemas.
- Os que têm a viagem interrompida são surpreendidos pelo mau tempo, geralmente. Há alguns anos, era muito comum encontrá-los com manchas de óleo, mas isso tem sido cada vez menos recorrente. O que ainda acontece bastante é a ingestão de plástico que as pessoas deixam na beira da praia e o mar leva. Os mais jovens acham que é comida - explica Maria Virgínia, que coordena a pesquisa Monitoramento e Diagnóstico das mortandades das aves marinhas que morrem na costa do RS na Unisinos.
- Nesse ano, já encontramos um pinguim com um canudo inteiro no estômago - reiterou o biólogo do Ceclimar, Ignacio Benites Moreno, que participou de um estudo recente que detectou resíduos plásticos no estômago de 43,8% dos animais analisados.
Maria Virgínia diz que o caso de ontem surpreende pela concentração de animais mortos, mas que, em média, durante todo o ano, cerca de 7 mil aves marinhas são encontradas na mesma situação na costa do Estado. Em 1997, quando o El Niño também teve grande influência no comportamento do clima na região, ela registrou 7.861.
Caso novos animais sejam vistos, vivos ou não, é preciso avisar imediatamente Patrulha Ambiental. Em Tramandaí, o telefone é 3661-4620. Em Xangri-lá, 3689-3206.