Um beijaço gay marcou o início do debate sobre as alterações no Estatuto do Desarmamento PL 3722/12 na tarde desta segunda-feira no Teatro Dante Barone, na Assembleia Legislativa. Doze jovens com cartazes foram até o local protestar contra o deputado federal Luis Carlos Heinze (PP/RS).
- Ele disse no ano passado que gays, lésbicas, indígenas e quilombolas são tudo aquilo que não presta. Se a gente analisar o conteúdo dessa fala, dá para ver que existe um incentivo à violência contra essas pessoas - defende o estudante e organizador da ação Lucas Maróstica.
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O grupo teve apoio da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do coletivo Juntos.
Após a fala da vereadora de Porto Alegre Mônica Leal (PP), os manifestantes entraram calados no teatro com cartazes em punho com palavras contra o racismo e homofobia. Em seguida, os jovens desceram até a frente do palco mostrando o protesto aos presentes.
A tensão aumentou no momento em que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), filho de Jair Bolsonaro e presente na mesa de discussões, foi saudado durante a fala do deputado federal Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), autor do PL.
A ação provocou reações acaloradas, com vaias da plateia. Enquanto alguns participantes gritavam o nome de Jair Bolsonaro, deputado federal conhecido pelo enfrentamento às pautas LGBT, os manifestantes gritavam "reaças não passarão".
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Ao deixar o teatro, o membro do coletivo Juntos e estudante Luciano Victorino falou mais sobre a ação:
- Viemos aqui marcar nossa presença, mostrar que a gente presta sim e que vamos continuar lutando. Eles é que devem se calar diante desses preconceitos.
Heinze se manifestou através da sua assessoria de imprensa:
"Repeito as manifestações democráticas. Mas esse é um assunto que já dei por encerrado e o próprio Supremo Tribunal Federal - STF - entendeu que não houve crime e que minhas palavras - como já reafirmei por dezenas de vezes - não foram ofensivas às pessoas, mas dirigidas aos movimentos que representam esses grupos e ao então ministro Gilberto Carvalho. Lamento, porém, que essa forma de protesto, desvie a atenção de um debate tão importante para o Brasil. O foco da reunião foi o projeto de lei que propõe a revisão do Estatuto do Desarmamento e é sobre isso que devemos falar."
Deputados e autoriadades expuseram suas ideias
Após a paralisação, deputados, promotores e lideranças ligadas à polícia e a clubes de tiro defenderam a revisão do Estatuto do Desarmamento para facilitar o acesso a armas no Brasil.
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Cerca de 20 oradores falaram, todos em favor do PL, e foram muito aplaudidos pelo público, que ocupava cerca de dois terços do Dante Barone. Alguns lembraram o referendo sobre o desarmamento, quando 63% dos brasileiros se posicionaram contra a probição da venda de armas no país.
- Quem quer cometer atrocidades, vai cometer com qualquer arma, não só com a arma de fogo - disse o autor o deputado Rogério Peninha Mendonça.
O professor universitário e articulista Denis Rosenfield, que chamou o Estatuto do Desarmamento de antidemocrático, defendeu o acesso às armas como "direito à legítima defesa". Em discurso inflamado, o deputado Jorge Pozzobom (PSDB), disse que "lugar de arma é na mão do cidadão":
- A felicidade que eu tenho é que não tem nenhum ladrão, nenhum bandido nessa plateia - avaliou, ovacionado pelos participantes.
Filho de Bolsonaro foi um dos mais assediados no evento
Filho de Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro foi o orador mais aplaudido pelo público. Em seu discurso, ele defendeu o PL 3277 e ironizou a permanência de Dilma Rousseff no poder:
- Essa PL será encaminhada para a sanção veto da presidente Dilma, se é que ela estará lá ainda - disse o deputado, que encerrou seu discurso com uma citação retirada do gabinete do pai:
- Estatuto do Desarmamento: esterco da vagabundagem - concluiu.
Bastante assediado, o parlamentar tirou fotos com alguns dos participantes antes de deixar o Dante Barone.
O evento foi mediado pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM). Além dos oradores, que tiveram 10 minutos cada para expor suas ideias, participaram os deputados estaduais Frederico Antunes (PP) e Marcel Van Hatten (PP), a vereadora Mônica Leal (PP) e os deputados federais Luiz Carlos Heinze (PP), Pompeo de Matos (PDT-RS) e Delegado Edson Moreira (PMDB-MG).
A gravação das falas será enviada para o deputado Laudívio Carvalho (PMDB-MG), que irá elaborar o relatório sobre projeto de lei.