Os três principais movimentos que organizam os protestos deste domingo pelo país têm como objetivo central forçar a saída de Dilma Rousseff do poder. Assim como nas manifestações realizadas em 15 de março e 12 de abril, os grupos Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e Revoltados Online esperam levar centenas de milhares de pessoas às ruas em todo o Brasil. Em Porto Alegre, a caminhada está prevista para as 14h, partindo do Parcão com destino ao Parque Farroupilha (Redenção).
- A mensagem que a gente quer passar é o impeachment. Mais de 70% dos brasileiros já entenderam que com a Dilma não conseguiremos sair dessa crise - afirma Christiano Huber Neto, 36 anos, um dos líderes do MBL no Estado, em referência à pesquisa Datafolha da semana passada que apontou 71% de reprovação a Dilma, superando os 68% atingidos por Fernando Collor de Mello, em setembro de 1992.
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Para o professor de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP) Roberto Romano da Silva, o cenário é mais grave do que no início do ano em razão - além da queda de popularidade - da crise institucional instalada entre os três poderes:
- A presidente piorou muito a sua situação. Ela não tem operadores capazes de tratar com o Judiciário e o Congresso.
Romano destaca, contudo, que não cabem comparações entre as crises do governo Collor e Dilma, e que os defensores da renúncia da presidente podem estar "soltando rojão antes do tempo".
- Collor se afastou e atacou virulentamente o PMDB e fracassou. Hoje, você vê que a presidente Dilma é praticamente refém do alto escalão do partido. A inflação está em nível preocupante, mas nem se compara ao período Collor. São quadros bem diferentes - avalia o professor.
Segundo o economista Ricardo Caldas, diretor do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da Universidade de Brasília (UnB), a manifestação de domingo tende a ser maior ou, no pior cenário, pelo menos igual a de abril.
- A política econômica tem sido muito combatida dentro do próprio governo. O aumento do desemprego e o retardamento nas tentativas de controle da inflação têm sido creditados mais à presidente do que a sua equipe econômica. A situação de Dilma é infinitamente mais frágil do que no início do ano - avalia Caldas.
Ato para divulgar o protesto de domingo ocorreu nesta quinta-feira, na esquina das avenidas Erico Verissimo e Ipiranga, em Porto Alegre (Foto: Marcelo Oliveira)
A Lava-Jato é outro fator que impulsiona o protesto de domingo. Conforme Romano, a insatisfação popular catalisada nas revelações da operação, que se aproxima cada vez mais da cúpula petista, é reflexo da radicalização adotada pelo partido "campeão da moralidade" em períodos anteriores.
O professor do Departamento de Ciência Política da USP, José Álvaro Moisés, não arrisca previsão sobre o impacto das manifestações. Segundo o cientista político, embora a situação do governo seja difícil, as últimas movimentações de PMDB e do ex-presidente Lula aliviam a situação de Dilma. Nesta semana, Lula esteve reunido com o vice-presidente Michel Temer e líderes do partido, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), lançou um plano de ajuda à presidente. O professor ressalta, porém, que tudo irá depender do volume da mobilização.
- Talvez se o protesto tivesse ocorrido 15 dias atrás o impacto seria maior. Mas esses fatos também dependem de sedimentação, repercutem junto às elites políticas e não chegam imediatamente ao restante da sociedade - pondera Moisés.
Nos últimos dias, a presidente fez questão de marcar posição preventiva diante da manifestação que se avizinha. Em discursos recentes, afirmou que ninguém lhe tiraria a legitimidade do voto e até apelou para uma música de Lenine: "Eu envergo, mas não quebro". Conforme Romano, a reação do governo depois de domingo também será decisiva para o futuro político da presidente.
- A entrevista desastrosa em que o (Miguel) Rossetto ligou as manifestações aos derrotados da eleição fortaleceu tanto a oposição quando os movimentos de base. Essa estratégia de desmoralizar o adversário isola o governo tanto da direita quanto dos setores da esquerda mais radical - explica o professor.
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Carlos Ismael Moreira
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