Uma audiência pública realizada na manhã desta quinta-feira pela Assembleia Legislativa, em Porto Alegre, se tornou palco de defesa da Fundação Zoobotânica do Estado (FZB), ameaçada de extinção pelo governo estadual por meio do projeto de lei 300/2015, sob alegação de "redução de despesas de custeio e de reorganização" da administração do Rio Grande do Sul. A fala mais aplaudida foi a de um ex-professor do governador José Ivo Sartori. Ludwig Buckup, 83 anos, não poupou o ex-aluno de críticas em sua explanação ao microfone:
- O governador Sartori foi meu aluno, acho que ele matou as minhas aulas de ecologia. Senão, jamais admitiria que se encaminhasse um projeto desse tipo.
O professor disse estar decepcionado com o ex-aluno. Porém, ele não se lembra de Sartori no curso pré-vestibular Mauá. Tinha 500 alunos, o que dificultava a identificação de cada um. Quem o recordou foi o próprio governador, que, segundo Buckup, costuma cumprimentá-lo assim, ao vê-lo:
- Meu professor...
Buckup é um dos criadores da instituição que deu origem à FZB, o Museu de Ciências Naturais, fundado em 1955. Ele suspeita que a ideia de limar a FZB não seja de Sartori, e sim da secretária Ana Pellini, da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Segundo o professor, Ana teria tido percalços em sua gestão anterior na Fepam por causa da atuação das duas fundações. A secretária está em viagem e a assessoria de imprensa da Fepam tentava, na tarde desta quinta-feira, entrar em contato com ela para comentar os pronunciamentos de Buckup.
Durante a audiência da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo, presidida pelo deputado Adolfo Brito (PP), houve várias declarações a favor da FZB. Por meio do promotor de Justiça José Seabra Mendes Júnior, o Ministério Público Estadual (MP) defendeu a fundação.
- O MP mantém parceria com ambientalistas e com a FZB e reconhece o trabalho qualificado. Assim, manifesta preocupação com questões como a possível extinção da FZB. Preocupa a destinação duvidosa de espécimes e do banco de sementes, a maioria não encontrada em outros locais, e o fornecimento do veneno para soro antiofídico. O MP está convicto de que a AL saberá examinar o tema com a cautela devida, ouvindo a voz das ruas - reportou.
A FZB ganhou ainda o apoio de representantes da UFRGS, PUCRS e do 1º Batalhão Ambiental da Brigada Militar. As universidades ressaltaram a relevância científica da fundação e o comandante do batalhão, major Rodrigo Gonçalves Santos, garantiu que depende da FZB para a identificação de espécies, o que é "essencial na apresentação de denúncias-crimes". Ele também demonstrou os efeitos negativos da possível privatização do Zoológico de Sapucaia do Sul.
- Precisamos de laudos técnicos muito certeiros, com muita credibilidade. Os laudos fornecidos pela FZB são inquestionáveis no plano jurídico. Três mil animais são apreendidos por ano somente na Região Metropolitana de Porto Alegre. Todos acabam passando pelo Cetas (Centro de Triagem de Animais) do zoo de Sapucaia. Se não tivermos o Cetas, nos preocupa muito: para onde levar os animais apreendidos? O projeto de lei terá reflexos em órgãos de fiscalização e proteção ambiental - relatou o comandante.
Ao final, dezenas de pessoas que estavam na audiência atravessaram a rua depois do encerramento do evento e se posicionaram em frente ao Palácio Piratini. Um grupo foi recebido para tentar negociar com o governo a retirada do projeto.
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Confira o discurso do professor Ludwig Buckup na audiência: