Cerca de seis meses depois de Ahmet Davutoglu assumir o cargo de premier da Turquia após a eleição de seu mentor, Recep Tayyip Erdogan, como presidente, a âncora da rede de TV CNN fez ao chefe de governo turco uma pergunta sobre a guerra civil na Síria. Estaria Ankara disposta a colocar "pés no chão" (enviar tropas) como parte de uma solução para o conflito? Davutoglu deu a resposta de praxe desde o início da guerra civil, em 2011: "Se outros (países) fizerem sua parte". Traduzindo: a Turquia não estava disposta a lutar em solo sírio no lugar de seus aliados americanos e europeus.
Turquia bombardeia Estado Islâmico na Síria e Partido dos Trabalhadores curdos
A entrevista foi ao ar em fevereiro passado. Desde sexta-feira, a Turquia concordou em ceder aos Estados Unidos a base aérea de Incirlik para a luta contra o EI e, mais importante, a própria força aérea turca fez investidas na Síria e na Turquia. Mas, como notou o analista Metin Gurcan, do site Al-Monitor, o principal alvo não foram os barbudos do califado: enquanto o ataque contra o EI foi "um único bombardeio contra alvos limitados e próximos da fronteira", um total de 300 bombas inteligentes foram lançadas sobre cerca de 400 alvos do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) no norte do Iraque. O título do artigo de Gurcan diz tudo: "É o PKK o verdadeiro alvo dos ataques turcos?".
Turquia declara guerra ao Estado Islâmico com bombardeio aéreo na Síria
O governo de Erdogan e Davutoglu enfrenta suas próprias dificuldades domésticas, a começar pela desaceleração econômica registrada em todo o mundo emergente. Nessas circunstâncias, aproveitar a tragédia síria e iraquiana para relançar sua própria guerra contra os curdos pode parecer uma boa ideia. Difícil será explicar, porém, o que isso tem a ver com a luta contra o EI, que tem no PKK iraquiano um de seus mais ferozes inimigos.
Olhar Global
Luiz Antônio Araujo: Turquia parte para o ataque
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Luiz Antônio Araujo
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