O aumento no valor da passagem do transporte coletivo urbano de Cachoeirinha, de R$ 2,95 para R$ 3,35, pegou passageiros de surpresa e alçou o município da Região Metropolitana ao topo de um ranking nada honroso.
Se fosse uma capital estadual, ocuparia o terceiro lugar, de acordo com levantamento feito ontem pelo Diário Gaúcho com os 26 Estados mais o Distrito Federal. Cachoeirinha só cobra menos do que as duas principais cidades do país: São Paulo (R$ 3,50) e Rio de Janeiro (R$ 3,40). Porto Alegre, com R$ 3,25, entre as capitais, está em quinto.
Maior do Estado
O aumento de 13,56% em Cachoeirinha foi aprovado pelo Conselho Municipal de Transporte e pelo prefeito, Vicente Pires, na sexta-feira passada. No mesmo dia, a prefeitura publicou uma edição extra do Diário Oficial com o decreto determinando o reajuste. O novo valor está valendo desde domingo. Este foi o segundo reajuste em seis meses. Em 26 dezembro, o valor havia sido reajustado de R$ 2,85 para R$ 2,95.
Entre os municípios gaúchos com mais de 50 mil habitantes, o valor de Cachoeirinha, com seus 118,2 mil habitantes, é o maior do Estado.
Comparação
O secretário municipal de Mobilidade Urbana, Joaquim Furtado, argumentou que é difícil comparar a situação entre os municípios, uma vez que cada um tem realidade e Índice de Passageiro por Quilômetro, usado no cálculo da tarifa, diferentes. A empresa que opera o serviço em Cachoeirinha é a Stadtbus.
Segundo ele, em março, a empresa solicitou que a tarifa fosse para R$ 3,70. A prefeitura teria "segurado o aumento" até este mês, quando a Stadtbus, prevendo 8% de inflação e 9,5% do dissídio dos rodoviários, alterou o pedido para R$ 3,73. Segundo o secretário, em reunião com o Conselho Municipal de Transporte, foi definida a aplicação do índice de 13,56%, fixando a tarifa em R$ 3,35. A base do cálculo não está disponível no site da prefeitura. O mesmo índice aplica-se às lotações, que subiram de R$ 4 para R$ 4,55.
O gerente da Stadtbus em Cachoeirinha, Laurício Vasconcelos, informou que o pedido de reajuste também leva em conta o fato de a empresa ter absorvido, nos primeiros meses do ano, o aumento do combustível.
Ação popular pede suspensão do reajuste
O aumento provocou mobilização na Câmara de Vereadores de Cachoeirinha, na terça. Além disso, parlamentares estão movendo ação popular que questiona o fato de a Stadtbus ser membro do Conselho Municipal de Transporte, uma vez que a lei orgânica do município não inclui a participação da empresa concedente do serviço nas discussões da tarifa.
De acordo com a lei, este conselho deve ter entidades populares, da categoria profissional, do poder legislativo e da prefeitura. A ação pede a suspensão do aumento. O documento já foi protocolado no fórum de Cachoeirinha.
- Pela lei, a empresa não poderia ser membro do conselho. Hoje, ela tem voz e voto - argumenta o vereador Irani Teixeira.
Para quem paga a conta, o aumento causa revolta
- Não tem fundamento pagar R$ 3,35. Como tenho uma empresa em Canoas, aumenta o gasto comigo e com um funcionário que mora aqui. Dificulta em tudo. Para voltar de Canoas, que é uma distância muito maior, pago R$ 3,45 - disse a empresária Lícia Soares Aguiar, 37 anos.
- Subiu bastante e está ficando pesado. A qualidade do serviço é razoável, mas faltam horários. A gente fica mofando na parada. Hoje (ontem), fiquei 40 minutos esperando a linha Integração 2 e perdi uma consulta no médico - relatou a diarista Claudia Regina Martins da Silva Alves, 41 anos.
Estudo do TCE aponta qualidade dos veículos
O Diagnóstico do Transporte Coletivo Urbano por Ônibus, elaborado pelo Tribunal de Contas do Estado entre setembro e novembro de 2014 e divulgado em maio deste ano, aponta que Cachoeirinha tem 100% de acessibilidade nos veículos e uma das frotas mais novas do Estado. A média de idade dos veículos é de 3,5 anos. Porto Alegre, por exemplo, tem média de 5,2 anos. Porém, apenas 25% dos ônibus têm ar-condicionado, enquanto Esteio tem 100%.
Neste levantamento, Cachoeirinha tinha a terceira maior tarifa do Estado, perdendo para Viamão e Porto Alegre.
