Amplificada por um alto-falante, uma gravação com gritos de Bernardo Boldrini pedindo socorro foi usada por manifestantes na recepção aos réus, que prestam depoimento nesta quarta-feira no fórum de Três Passos.
Evandro Wirganovicz foi o primeiro a chegar ao local, por volta das 9h30min. Pai de Bernardo, o médico Leandro Boldrini foi o segundo, cerca de 20 minutos mais tarde. Algemado, ele chegou ao fórum em um viatura da Susepe. A madastra Gracielle Ugulini foi a terceira, sob os gritos de "assassina". Edelvânia foi a última a chegar, perto das 10h.
Com apitos, cartazes e faixas pedindo justiça, cerca de 100 pessoas fizeram vigília em frente ao prédio, onde o pai Leandro Boldrini, a madrasta Graciele Ugulini e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganowicz, suspeitos do crime, serão ouvidos pela primeira vez.
Cerca de 200 terços azuis foram transformados em lembranças e, junto a uma foto de Bernardo, entregues a quem foi ao local. Tendas providenciadas foram armadas em frente ao Fórum, e a Brigada Militar (BM) autorizou o bloqueio da avenida onde fica o prédio.
Leandro Boldrini retorna a Três Passos nesta quarta-feira após cerca de um ano. Preso em 14 de abril de 2014, o médico retornou à cidade na metade do ano passado para uma audiência de um processo cível. Já a madrasta, Graciele, não esteve no município desde a sua detenção.
Por motivos de segurança, a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) não informa como será o deslocamento dos réus à cidade que, pela primeira vez em um ano e dois meses, irá se deparar com os quatro principais suspeitos de terem cometido o crime que a chocou.
Cartazes espalhados desde o letreiro que anuncia Três Passos em seu trevo de acesso até o prédio do Fórum e a casa onde Bernardo morava reforçam o pedido dos moradores: justiça.
Acompanhe ao vivo:
O PASSO-A-PASSO DA AUDIÊNCIA
Quem participa:
- Juiz Marcos Luís Agostini, titular do processo desde o começo
- Promotora Sílvia Jappe, que assumiu o caso há cerca de um ano, depois de a colega Dinamárcia Maciel de Oliveira ser promovida e transferida. Dinamárcia trabalhava no expediente de troca de guarda de Bernardo e, depois do crime, atuou até a apresentação da denúncia contra o suspeitos. Sílvia também foi promovida recentemente e deve deixar o caso depois dos interrogatórios e da entrega de memoriais.
- Assistente de acusação, Marlon Taborda, que representa a família da mãe de Bernardo
- Os advogados dos réus: Ezequiel Vetoretti e Rodrigo Grecellé Vares (Leandro Boldrini), Vanderlei Pompeo de Mattos (Graciele Ugulini), Demetryus Grapiglia (Edelvânia Wirganowicz) e Hélio Francisco Sauer (Evandro Wirganowicz)
Os reús:
- São mantidos em salas separadas e não podem ter contato entre si. Quem não foi interrogado não pode ouvir o que os demais vão dizer. Depois de falar, cada um pode ficar na sala de audiência. O réu tem o direito de ficar em silêncio.
O interrogatório no processo:
- É meio de defesa e meio de prova. Trata-se de meio de defesa porque é no interrogatório que o acusado tem a oportunidade de dar a sua versão dos fatos. Vale ressaltar que o réu não tem a obrigação legal de dizer a verdade, até mesmo porque está protegido pelo princípio da não auto-incriminação. E é meio de prova porque permite que se faça o confronto da versão do réu com as provas produzidas.
Ordem das perguntas:
- No começo da sessão o juiz vai definir a ordem em que os réus serão ouvidos. O juiz é o primeiro a perguntar. Depois, falam Ministério Público, assistente de acusação e advogados dos réus.
Próximos passos:
- Depois dos interrogatórios, é aberto prazo de cindo dias para a apresentação de memoriais, ou seja, para que acusação e defesa entreguem por escrito suas argumentações sobre a culpa ou inocência dos réus.
- Depois de analisar o processo e os memoriais, o magistrado tem quatro decisões possíveis:
Sentença de pronúncia: caso se convença da materialidade dos fatos e de indícios de autoria ou de participação, os réus vão ser julgados no Tribunal do Júri (Júri Popular).
Sentença de impronúncia: quando o magistrado considera que não há prova da existência do fato ou indícios de autoria. O processo é arquivado.
Absolvição sumária: se o juiz entender que há prova segura da inocência dos acusados. Os réus são inocentados.
Desclassificação: ocorre quando o julgador se convencer, em discordância com a acusação (no caso, o MP), da existência de crime diferente daquele pelo qual o réu foi denunciado, que não seja doloso contra a vida. No caso, o réu será julgado em vara criminal e não pelo Tribunal do Júri.