A morte do escritor e letrista Sergio Napp é muito sentida no meio cultural gaúcho. O autor de canções clássicas do regionalismo, como Canto Livre, composta em parceria com Fernando Cardoso e Jair Kobe, e Desgarrados, com Mário Barbará, é velado na Casa de Cultura Mario Quintana. Abaixo, leia depoimentos de personalidades da cultura que conviveram com Napp ou admiravam seu trabalho:
Jair Kobe, músico e humorista
Napp: amigo, parceiro, padrinho e mais do que isto, um ídolo. Um exemplo de vigor, de entusiasmo, de vontade de mostrar a sua arte para todos. Incansável guerreiro. Como dizia o poeta, "mas o que foi, nunca mais será".
Victor Hugo, cantor e atual secretário de Cultura
Tive a honra de ser escolhido por Napp para gravar um CD só com músicas dele criadas ao lado de Mário Barbará (Vivências, de 2010). Foi um dos momentos mais bonitos da minha trajetória artística. Já conhecia a maior parte das músicas escolhidas para o disco, mas uma delas era inédita e me emocionou tremendamente. Era Vivências, que tinha um verso que dizia "Antes que a vida acabe antes", falando sobre nossas escolhas no meio da correria da vida, mas de um jeito que só um poeta do quilate dele consegue fazer. Nós nos conhecemos em festivais, depois fomos colegas de gestão pública, desenvolvendo uma grande amizade. Nosso amigo agora é só saudade.
Neto Fagundes, cantor e compositor
Convivemos muito em festivais, fui o vencedor de uma das linhas da Califórnia de 1981, quando ele venceu em outra linha com Desgarrados. Era um homem muito educado e passava seriedade em tudo que fazia. Considero Napp o poeta que levou a música nativista para Porto Alegre. Mesmo sendo do Interior, ele tinha uma ligação muito grande com a Capital, e também colocou isso em suas letras. Com Desgarrados, a música regional entrou de vez no ambiente urbano.
Vinícius Brum, músico
Ele era uma figura ímpar da canção gaúcha e brasileira, fez parte da geração pioneira dos festivais. Foi um artesão da palavras, tendo composições que se imortalizaram no cancioneiro regional. Desgarrados, por exemplo, é ambientada em uma cidade grande, não é uma loa gratuita ao mundo rural, e aborda esse ambiente com um olhar lírico. Tal como Napp, é uma música doce, mas veemente, inclusive em suas convicções política. Era muito afetuoso e via o mundo com olhos de poeta, como é possível ler em seus textos da coluna Pampianas, nos quais criou um alter ego que se encontra e se conecta com outras personalidades da poesia e literatura.
Ayrton "Patinete" dos Anjos, produtor cultural
Napp era muito criativo e participativo, um ótimo letrista, e foi um homem de visão quando exerceu cargos públicos. Ele foi uma das pessoas mais importantes do movimento musical que veio depois de Teixeirinha e Gildo de Freitas. Era uma onda menos bagual, mais urbana, que era exposta nos festivais regionais de canção. Eram compositores urbanos, ou então campeiros com uma formação diferente, uma nova safra que fugiu um pouco da temática do campo, abordando a cidade. Sergio Napp foi um dos nomes mais importantes deste movimento, que ainda contou com Luiz Coronel, Mario Barbará, Geraldo Flach e Jerônimo Jardim, entre outros.
Juarez Fonseca, crítico musical
É uma perda bem grande para a cultura do Rio Grande do Sul. Foi um cara que atuou tanto na música nativista quanto na popular. Ganhou a Califórnia com o Mário Barbará com Desgarrados, uma das canções mais regravadas por gente de fora e de dentro do Estado. Estava em ação desde os anos 1960. Era um líder na área dele.
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