Uma reunião entre representantes do governo do Acre, parlamentares acreanos, Casa Civil e Ministério da Justiça na tarde desta quinta-feira levou à suspensão do envio de imigrantes haitianos e senegaleses para o Sul do Brasil pelos próximos dias. Os dois primeiros ônibus - com 44 pessoas cada - sairiam de Rio Branco (AC) durante a tarde, com previsão de chegada em Florianópolis na noite de domingo.
Segundo porta-voz do Governo do Acre, Leonildo Rosas, as viagens estão suspensas por tempo indefinido, até que se monte um sistema de comunicação mais eficaz entre as regiões. As prefeituras de cidades que receberão imigrantes serão notificadas quando houver mudança no cenário, segundo ele. Mais cedo, o governo do Acre chegou a afirmar que os imigrantes já teriam deixado o Estado rumo ao Sul do país, o que não se confirmou.
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A Defensoria Pública da União no Acre visitou, na tarde desta quinta-feira, o abrigo onde a maior parte dos imigrantes está. Segundo o defensor Pedro Assed Pereira, os senegaleses são maioria entre os que querem se mudar para SC e RS. Ele relata que os imigrantes ficaram "bastante decepcionados" com a suspensão das viagens - o que é agravado pelas péssimas condições dos locais onde estão alojados
A polêmica começou após o Diário Oficial do Acre publicar, em 12 de maio, detalhes sobre a contratação de ônibus para levar imigrantes em "caráter de emergência social" para outros Estados. Segundo a Secretaria de Direitos Humanos do Acre, são oito veículos com capacidade para 44 passageiros cada, somando cerca de 350 pessoas.
Aviso na porta de abrigo em Rio Branco (AC) cita os destinôs dos ônibus. Foto: Wembley Methas, arquivo pessoal
A pasta diz que 95% deles afirmam interesse em se estabelecer em São Paulo, mas a suspensão do acordo que facilitiva o envio dos imigrantes para lá fez a maior parte optar pelo Sul do país. Além de Florianópolis, Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Cuiabá (MT), Porto Velho (RO) e Campo Grande (MS) entraram na lista de destinos.
O Ministério da Justiça firmou convênio de R$ 1 milhão com o Acre neste ano para garantir a distribuição de haitianos pelo país.
Longo trajeto até o Sul do Brasil
Dois anos após o terremoto que transformou em escombros a capital do país mais pobre das Américas, a saída para muitos haitianos têm sido procurar no Brasil as condições de vida que não existem dentro de suas fronteiras, onde 60% da população está desempregada e 4,5 milhões sofrem com a escassez de alimentos.
Na fronteira brasileira, Brasileia (AC) é um dos pontos de entrada de cerca dos mais de 22 mil haitianos que já chegaram ao Brasil entre 2010 e 2014, segundo a ONG Repórter Brasil. Sozinhos ou com as famílias, enfrentam um roteiro complexo, muitas vezes com passagens por outros países.
Ali, protocolam um registro de refúgio em um posto da Polícia Federal, onde recebem a autorização provisória para permanecer no Brasil. Após um tempo de espera, imigrantes haitianos ganham autorização para usar o Sistema Único de Saúde (SUS) e trabalhar com carteira assinada. Vários chegam ao país e acabam trazendo os parentes mais tarde.