A crise financeira que o levou o governo Federal a enxugar o Orçamento Geral da União poderá reduzir em 40% as verbas para o Exército em 2015.
Uma das consequências é a suspensão de ações de fronteira no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, afetando importante instrumento de combate ao ingresso de drogas na Região Sul.
O tema é alvo de preocupação do Comando Militar do Sul (CMS), que atua em uma faixa de 2,4 mil quilômetros nas proximidades com Argentina, Uruguai e Paraguai - principal "exportador" de maconha para o Brasil.
- Como teremos menos recursos, treinaremos menos, estaremos menos capacitados e com menos verba para manutenção de equipamentos. É como uma bola de neve. Cada operação será com menos meios - lamentou o general de Exército Antônio Hamilton Martins Mourão, comandante do CMS, em encontro com jornalistas na sede do CMS, em Porto Alegre.
No âmbito do CMS, já foi definida a realização da nona edição da Operação Ágata apenas no Paraná. Criada em 2011, a ofensiva é uma das principais ações da Forças Armadas em uma parceria de 13 ministérios com 20 organismos, como Receita Federal e Polícia Federal, para reprimir o tráfico de drogas e o contrabando de armas entre outros crimes, na fronteira com 10 países.
Questionado sobre o impacto da medida no combate ao tráfico no Estado, o general disse que pretende reforçar outras ações, como a Operação Fronteira Sul, contando com efetivos disponíveis, alocados nas cidades fronteiriças.
- Ficamos sem capacidade de cumprir uma parcela das nossas atividades. Mas é importante destacar que a missão do Exército neste processo é secundária, esporádica. O combate às drogas é uma questão de saúde pública, de investimentos em comunidades e também está ligado aos organismos de segurança pública. O Estado tem de agir como um todo. Se não fizer isso, vamos enxugar gelo indefinidamente - enfatizou Mourão.
O aperto nas finanças deve tirar dos cofres do Exército R$ 880 milhões dos R$ 2,2 bilhões até então previstos para despesas de custeio deste ano nos oito comandos regionais. Além desse corte, o governo Federal também incorporou ao Orçamento Geral cerca de R$ 190 milhões, relativos a receitas próprias do Exército.
A redefinição de gastos em cada comando será decidida em uma reunião da cúpula da corporação, na próxima semana, em Brasília. O certo é que não pode haver cortes com alimentação, saúde, despesas com material de consumo como fardamento, entre outras prioridades. Além de operações, o CMS estuda medidas de economia como redução do horário de expediente para gastar menos com água e luz.