Na articulação política, o vice-presidente Michel Temer, uma raposa que conhece o Congresso e os caciques do PMDB como a palma da mão. Nos Direitos Humanos, Pepe Vargas, um médico homeopata que fracassou na articulação política por desconhecer os fundamentos que norteiam as relações de um governo refém dos próprios aliados com um Congresso fisiológico. É essa a síntese da mais recente mudança no governo de Dilma Rousseff, a quinta em menos de cem dias de governo.
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Eleito com 109.469 votos, Pepe não precisa de emprego no governo. Pediu demissão depois de saber, pela imprensa, que seu cargo tinha sido oferecido ao ministro Eliseu Padilha, que o rejeitou. Dilma pediu desculpas e ofereceu a Secretaria de Direitos Humanos. Mais do que um prêmio de consolação para um companheiro rifado em nome da necessidade de amarrar o PMDB no governo, o arranjo garante a permanência do suplente Fernando Marroni na Câmara.
A Secretaria de Direitos Humanos pode ser um ministério de segunda linha em termos de orçamento e de poder, mas é mais adequado ao perfil de Pepe do que a articulação política. Manter o ex-prefeito de Caxias na equipe significa, para Dilma, ter um companheiro leal no ministério sem desalojar Marroni, um suplente que defende o governo com unhas e dentes.
Além de permitir a extinção de um dos 39 ministérios, a entrega da articulação política para Michel Temer segue a lógica ditada pelo ex-presidente Lula: dar mais responsabilidade ao PMDB, fiador do governo no Congresso. Pelo cargo que ocupa e por sua história no PMDB, Temer é a pessoa talhada para conversar com o senador Renan Calheiros e com o deputado Eduardo Cunha, que dão as cartas no Senado e na Câmara e, hoje, impõem sua agenda ao Planalto.
Dilma precisa de Temer e do PMDB para aprovar o ajuste fiscal e evitar o colapso da economia. Com a popularidade em baixa, a presidente não pode correr o risco de perder o controle da inflação, maior conquista dos anos 1990.