A definição da presidente Dilma Rousseff de que o vice, Michel Temer (PMDB), é o novo responsável pela articulação política do governo rendeu críticas entre aliados e oposicionistas, mas recebeu avaliação positiva de quem lhe interessava: os presidentes da Câmara e do Senado. Na estreia, Temer já teve vitórias ao evitar a instalação de uma CPI para investigar operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - seis senadores retiraram suas assinaturas do pedido - e garantiu apoio para o ajuste fiscal.
Pelo Twitter, o ex-governador Tarso Genro (PT) criticou a iniciativa de Dilma de entregar a articulação política a Temer e afirmou que o PT está "fora das decisões principais" do governo, citando como exemplo de distanciamento do partido as medidas adotadas nas áreas econômica e política. "Outra constatação, para o bem e para o mal: PT é cada vez mais acessório no governo. Não é nem consultado", escreveu.
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Na oposição, a subsituição de um petista, Pepe Vargas, por um peemedebista, Temer, foi tratada como uma espécie de "renúncia branca" do mandato de Dilma. Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que a presidente está refém dos presidentes da Câmara e do Senado, do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e, agora, também do seu próprio vice.
- A grande pergunta que resta é: que papel desempenha hoje a presidente da República? Acredito que praticamente nenhum mais - disse Aécio.
No Congresso, a primeira impressão é de que os pleitos do governo terão mais facilidade de tramitação. Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) considerou Temer a "melhor pessoa" para resgatar a coalizão de partidos que apoiam Dilma. Na avaliação de Renan, a subtituição cria um ambiente para que se faça uma "revisão geral" da forma de atuação política do governo. Na Câmara, Eduardo Cunha(PMDB-RJ) disse que Temer "vai contribuir muito" com a melhora na relação entre o Planalto e o Congresso, já que o vice-presidente "tem bom trânsito para ajudar o governo".
Risco de embate com casa civil é minimizado
Temer minimizou possíveis desgastes na relação entre o PMDB e o PT ocorridos no início do segundo mandato de Dilma. Nesta quarta-feira, no início da tarde, ele conduziu a primeira reunião com líderes da base aliada do governo. No encontro, foi assinado um documento no qual os parlamentares afirmam apoiar "o esforço pelo equilíbrio e estabilidade fiscal".
O vice-presidente minimizou a possibilidade de o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, se afastar da relação com o Congresso. Essa é uma das demandas de setores do PT ligados ao ex-presidente Lula e de integrantes da base aliada.
- É claro que cada um terá suas tarefas. Eu, por exemplo, não interferirei nas questões administrativas. Farei a articulação de natureza política. Mas o governo é uma unidade, todos colaboram entre si, inclusive o Mercadante - disse Temer.
O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), sinalizou que o fato de Temer ter assumido o posto de articulador político e os partidos da base aliada terem assinado um pacto de responsabilidade fiscal com o governo não vai fazer com que o Congresso deixe de apreciar projetos que desagradem ao Palácio do Planalto:
- O nosso compromisso é no sentido de não aprovar mais despesas. É um compromisso temporário para que o Brasil possa voltar a crescer.