Longe de mim querer me insurgir contra esse turbilhão de exibicionismo à nossa volta, nas redes sociais e na vida real. Nada contra endinheirados e a liberdade que têm de viver e de se expor como bem entendem. E é natural que tantos jovens se sintam obcecados pelos ganhos fáceis de seus ídolos. O problema começa quando a obsessão pelo excesso, incluindo o de dinheiro, torna-se o principal objetivo, o único.
Não faz muito, vimos uma dessas caricaturas do acúmulo sem maior esforço ruir entre iates e carros luxuosos. Nem mesmo o juiz responsável pelo caso resistiu ao fascínio de sair pelas ruas pilotando um Porsche branco, como nos fantasiosos clipes de funk ostentação. E ainda teve aquele corrupto com tanta obra de arte em casa, que daria para montar um museu. É ingênuo imaginar que pessoas assim possam, espontaneamente, se tornar mais humildes. Também não é o caso de desejarmos vê-las na miséria. A não ser quando ocorre por opção, pobreza é uma condição degradante. Mas podemos, sim, pressionar pela redução de privilégios que facilitam o vale-tudo.
Qual, por exemplo, a razão de políticos e magistrados ganharem um salário tão superior ao de outros profissionais - inclusive dos que os prepararam para chegar aonde estão? Precisa tanto ministro, tanto secretário? Mais: por que sobra tanta comida em algumas mesas? Por que há tanto esbanjamento? Sem esquecer que, hoje, tudo vira evento, show - até mesmo festinha de criança. Impossível que isso não ajude a levar mais gente ainda a vender a alma ao diabo. A fatura demora, mas vem.
Menos mal que, diante dessas indagações, tem quem lembre de gente simples. Do papa Francisco, de José Pepe Mujica, do Dalai Lama... Ou então de visionários como Duane Elgin, o criador da expressão simplicidade voluntária, que defende "uma maneira de viver exteriormente mais simples e interiormente mais rica". Algo assim como "um modo de ser no qual nosso eu mais autêntico é posto em contato direto com a vida".
Claro que não há só uma razão para o apego excessivo à pompa, nem uma única forma de enfrentá-la. Mas podemos nos inspirar menos em quem só pensa em acumular - inclusive o que é nosso - e mais em quem defende valores essenciais. A simplicidade, por exemplo. O respeito ao próximo e ao que é do próximo. O estudo. Parece óbvio, mas não tem o que garanta mais crescimento interior e a riqueza que realmente importa, pois nos engrandece.
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Clóvis Malta: por que tanta ostentação?
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