O protesto convocado por organizações sociais para a sexta-feira ensaiou dar mais ênfase a cobranças ao governo federal, mas, na prática, um dos temas centrais da mobilização em São Paulo foi mesmo a defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff.
Milhares de manifestantes ligados a CUT, MST e UNE e apoiadores em geral fecharam a Avenida Paulista e marcharam até a Praça da República sob chuva para condenar um eventual processo de impeachment - além de defender a Petrobras, direitos trabalhistas e a reforma política.
Sem a presença de grandes estrelas, logo no início do protesto ficou claro que uma das prioridades dos participantes era fazer um contraponto à manifestação anti-Dilma prevista para o domingo - embora isso não tenha sido exposto claramente nos materiais de divulgação.
O presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, deixou claro o que significava o slogan de "defesa da democracia" anunciado como um dos motes da mobilização desta sexta:
- A eleição já acabou. O Brasil precisa acabar o terceiro turno. As pessoas têm o direito de se manifestar contra ou a favor do governo, mas não podemos viver esse clima de continuidade eleitoral o resto da vida. Precisamos criar condições do Brasil crescer.
Freitas defendeu, ainda, a continuidade de investimentos para garantir o crescimento do país, em vez da recente política de austeridade iniciada pelo governo federal.
Entre os participantes que enfrentaram sucessivas pancadas de chuva (mais de 50 mil, conforme os organizadores, ou cerca de 10 mil, segundo a PM), havia desde líderes sindicais até servidores públicos, estudantes e aposentados dispostos a defender pautas variadas - tendo o mandato de Dilma como ponto em comum. Uma parte dos participantes foi convocada por líderes sindicais para reforçar a manifestação. Um grupo de moradores do bairro do Limão vestindo coletes da CUT informou que não sabia bem que bandeiras defenderia no local, mas que havia sido convencido por uma líder sindical a lutar por "direitos dos trabalhadores". Eles informaram ter recebido carona até a Avenida Paulista, mas nenhuma outra vantagem.
A representante do Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo que convocou o grupo, Noélia Bandeira, 45 anos, afirma que todos foram convidados para defender seus próprios interesses.
- Não podemos perder conquistas como seguro-desemprego e 13º salário - afirmou Noélia.
Muitos outros participaram por livre iniciativa. O casal de aposentados Kiyosumi e Helena Misawa, ambos de 67 anos, foram à rua pedir uma reforma política que privilegie financiamento público de campanhas.
- Hoje, é o capital que elege os políticos - afirmou Kiyosumi.
As irmãs Dalita, 29 anos, e Deborah Guimarães, 24, tomaram a Paulista em favor da educação - mas também para garantir Dilma Rousseff até o fim do mandato.
- A Dilma foi eleita pelo povo, e não pode ser tirada pela elite econômica - defendeu Dalita, enfrentando a chuva que desafiou os milhares de participantes.