Durante quase uma década, líderes do PP no esquema de corrupção na Petrobras teriam recebido pagamentos mensais que variavam de R$ 250 mil a R$ 500 mil. A outros nomes da bancada, incluindo seis deputados gaúchos, os repasses chegariam a R$ 150 mil, conforme a força política de cada um.
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A suspeita de mesada para integrantes do partido tem base nas delações premiadas do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, mantido no cargo entre 2004 e 2012 por indicação do próprio PP. Somente em 2010, ano eleitoral, o partido teria recebido R$ 28,8 milhões.
Chamada por alguns procuradores de "mensalinho", a mesada tem o funcionamento descrito na petição 5.260, encaminhada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Na sexta-feira, o ministro Teori Zavascki autorizou a abertura de inquéritos, incluindo toda a bancada do PP do Estado na legislatura passada (2011-2014): Afonso Hamm, Jerônimo Goergen, José Otávio Germano, Luis Carlos Heinze, Renato Molling e Vilson Covatti. Do sexteto, apenas Covati não é mais deputado.
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Os delatores não especificaram por nome de deputado o período, valor e a forma como os gaúchos teriam recebido o mensalinho. Eles foram citados duas vezes por Youssef, que os colocou em um grupo de 25 correligionários com relação aos quais tinha "certeza" do beneficiamento.
Pela descrição do doleiro, integrariam o baixo clero no esquema iniciado em 2004 e organizado pelo então deputado José Janene, que foi réu no mensalão e morreu em 2010. Janene levou Costa para a Petrobras, dentro do rateio partidário da estatal.
Na época, segundo os delatores, foi acertado que as empreiteiras pagariam ao PP percentual de 0,5% a 1% sobre o preço dos contratos. As empresas viabilizariam a comissão reduzindo despesas na obra ou elevando gastos, variações permitidas pela falta de precisão dos projetos de engenharia.
Costa explicou que o dinheiro da propina era dividido entre o PP, ele e Youssef, restando uma fatia para custear o esquema. Janene ficaria com as maiores remessas, seguido por pagamentos de R$ 250 mil a R$ 500 mil para deputados do seu grupo: Mário Negromonte, João Pizzolatti, Pedro Corrêa e Nelson Meurer.
No restante da bancada, nem todos receberiam a mesada, apenas uma parte, que levaria valores que variavam entre R$ 30 mil e R$ 150 mil - somados, os beneficiários movimentariam até R$ 1,5 milhão ao mês. Neste grupo estariam os gaúchos. Conforme o doleiro, o pagamento poderia ser feito em espécie, por meio de doações oficiais de empresas ou ainda por transferências dos diretórios nacional e estadual para as campanhas dos políticos.
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As entregas seriam feitas por Youssef ou seus contatos. Valores próximos a R$ 500 mil seriam levados em espécie no corpo do emissário. Aeronaves teriam sido fretadas para quantias maiores, sem registro do voo.
Na escolha do líder do PP na Câmara haveria um pagamento extra para os parlamentares votarem no escolhido do grupo de Janene. Para Youssef, os beneficiários sabiam da origem do dinheiro, já que a bancada apoiava a manutenção de Costa na Petrobras. O mensalinho não seria por votação específica, mas para manter a fidelidade ao governo.
Com a morte de Janene, Negromonte assumiu a liderança. Ao final do mesmo ano, ele assumiu o Ministério das Cidades. Em 2012, uma rebelião interna no PP mudou o grupo hegemônico. A coalizão dos senadores Ciro Nogueira e Benedito de Lira, mais os deputados Arthur Lira, Dudu da Fonte e Aguinaldo Ribeiro derrubou o grupo de Negromonte, que foi substituído por Ribeiro no ministério.
A mudança, conforme Costa, exigiu que ele começasse a repassar as comissões para Arthur. No mesmo ano, Costa deixou a Petrobras.
Contrapontos
O que diz Jerônimo Goergen
Jamais recebi e jamais receberia mesada. Minha história dentro da bancada é de um confronto incansável para justamente mudarmos a forma com que se fazia política. O esquema e os líderes desta situação na Petrobras são de 2004, cheguei na Câmara em 2011. Vou processar o doleiro Alberto Youssef.
O que diz José Otávio Germano
Por meio do advogado José Paganella Boschi, o deputado nega o envolvimento com o caso e quer esclarecê-lo o mais rápido possível. Ele teve relacionamento apenas institucional com a Petrobras, pois já presidiu a Comissão de Minas e Energia da Câmara. Os sigilos bancário, fiscal e telefônico dele já estão à disposição da Procuradoria-Geral da República.
O que diz Afonso Hamm
É um absurdo, eu nunca recebi recursos deste esquema, não recebi um centavo. Quando um deputado recebe algum repasse do partido, recebemos recursos oficiais no período de eleição, que é o que está na prestação de contas.
O que diz Luis Carlos Heinze
Meus eleitores conhecem minha postura. Não recebi mesada durante o mensalão e também não recebi no caso da Petrobras. Se o partido cometeu erros, não fiz parte deles. Vou ao Supremo pedir uma acareação com Alberto Youssef, quero saber quem colocou meu nome em um esquema do qual não faço parte.
O que diz Vilson Covatti
Nunca ninguém me ofertou nem eu pedi dinheiro de corrupção. Nunca recebi mesada, estou indignado. Nunca fiz parte dos grupos políticos do PP, não era do time do Mário Negromonte ou do time do Arthur Lira. Pelo contrário, fiz enfrentamentos aos grupos. Serei um guerreiro incansável para provar minha inocência.
O que diz Renato Molling
Zero Hora tentou contato por telefone com o deputado, que não retornou as ligações.