Dos cinco deputados do PP do Rio Grande do Sul que serão alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), três tiveram parte de suas campanhas financiadas, em 2014, por empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato. Juntos, Jerônimo Goergen, José Otávio Germano e Luiz Carlos Heinze receberam R$ 360 mil da Engevix, Grupo Odebrecht, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez - empresas suspeitas de participarem do esquema de corrupção em contratos com a Petrobras.
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O valor doado legalmente pelas quatro corporações corresponde a 4,3% da receita total declarada pelos parlamentares ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que foi de R$ 8,37 milhões. Germano, Goergen e Heinze lideraram o ranking de gastos na eleição passada, respondendo por 13,7% da despesa total dos 31 eleitos. Para conquistar uma cadeira na Câmara dos Deputados, os progressistas desembolsaram, respectivamente, R$ 2,9 milhões, R$ 2,7 milhões e R$ 2,5 milhões. Em média, os parlamentares eleitos gastaram R$ 1,2 milhão.
Na sexta-feira, o ministro do STF Teori Zavascki autorizou a abertura de inquérito contra os três parlamentares e outros três colegas de partido: os deputados Afonso Hamm e Renato Molling, além do ex-deputado Vilson Covatti. Os seis teriam recebido mesada que variava entre R$ 30 mil e R$ 150 mil, oriundos de contratos da Petrobras, conforme depoimentos do doleiro Alberto Youssef.
Nas eleições de 2010, também há registro de doações das empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato. O deputado José Otávio Germano recebeu, em valores atualizados, R$ 559 mil da Engevix, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa. No entanto, como na campanha retrasada era permitido a chamada doação oculta (os partidos distribuíam verba doada por empresas para candidatos ou comitês sem identificar a origem do dinheiro), não é possível identificar se, de fato, houve repasse destas empresas para os outros políticos do PP gaúcho.
Zero Hora tentou entrar em contato com os deputados que receberam as doações, mas, até a publicação desta matéria, os parlamentares não retornaram aos contatos da reportagem.
CONTRAPONTOS
O que os gaúchos que serão investigados por desvios na Petrobras disseram:
Afonso Hamm, deputado federal pelo PP-RS
O deputado se mostrou surpreso com a citação do seu nome, e negou relação com os delatores do esquema de corrupção. "Nunca estive na Petrobras. Lembro só de uma reunião partidária em que eu conheci o Paulo (Roberto Costa, delator). Mas nunca tive contato com essas pessoas, por isso estou tranquilo. Só estou preocupado em vincular nosso nome nisso", disse à Rádio Gaúcha.
Jerônimo Goergen, deputado federal pelo PP-RS
Em entrevista à Rádio Gaúcha, afirmou que não recebeu "doação de nenhuma empresa investigada na Lava-Jato".
José Otavio Germano, deputado federal pelo PP-RS
Em nota, disse ter ficado "surpreendido" com a decisão do ministro Teori Zavascki. "Rechaço e lamento, de forma veemente, a inclusão de meu nome no rol de parlamentares relacionados a esta investigação, mas asseguro à sociedade brasileira e em especial aos cidadãos gaúchos que não tenho absolutamente nada a ver com quaisquer ilícitos relativos a Petrobras"
Luiz Carlos Heinze, deputado federal pelo PP-RS
"Estou surpreso, mas estou tranquilo. Não tenho ligação nenhuma, não é gente da minha relação. Estou tranquilo, de sangue doce, sem problema nenhum. Os recursos que eu recebi (para campanha) do partido são públicos, estão na minha prestação de contas, foi aprovada, não tenho mais nada a dizer sobre esse assunto", informou, por meio de nota, o deputado.
Renato Mölling, deputado federal pelo PP-RS
Afirmou que o prejulgamento já aconteceu, mas que irá provar sua inocência. "Também continuarei, como sempre fiz, praticando a boa política. Não vendo o meu voto e defendo o que é melhor para o país", disse, em nota.
Vilson Covatti, ex-deputado federal pelo PP-RS
"Estou estupefato. Nunca tive contato com Alberto Youssef ou Paulo Roberto Costa. Nunca recebi nada das empreiteiras investigadas. Agora é ter calma para ver de onde saiu esse absurdo", afirmou.
A cronologia da Lava-Jato: