Uma divergência entre os laudos da necropsia e do local de crime suspendeu a audiência em que seria ouvido, pela primeira vez, o juiz aposentado Francisco Eclache Filho, 65 anos, no Fórum de Restinga Seca na tarde de sexta-feira. Ele é acusado de ter matado a mulher, a ex-secretária de Finanças e da Indústria de Restinga Seca, Madalena Dotto Nogara, 55 anos, com quatro tiros, em julho do ano passado.
O pedido que acabou levando à suspensão da audiência foi feito pelo advogado de acusação, Bruno Seligman de Menezes. Ele percebeu uma imprecisão nos laudos da morte de Madalena.
- O laudo pericial de local de morte aponta disparos na orelha esquerda. O da necropsia diz que foi na orelha direita. Oficializamos o pedido para que a situação seja esclarecida para que isso não cause nenhum problema posterior - explica Menezes.
De acordo com Roger Alves da Rocha, um dos advogados de defesa, o juiz aposentado tinha ido até a cidade pronto para contar a sua versão. Como a audiência foi suspensa, Rocha preferiu não dar detalhes sobre qual será o caminho adotado na defesa dele.
Na delegacia, em Osório, Eclache Filho confessou ter matado a vítima, mas disse que a estava ensinando como se usa uma arma de fogo e, em determinado momento, ela teria pego a arma e apontado para ele. O crime ocorreu 54 dias após o casal oficializar a união estável. Os dois tinham se conhecido pela internet.
A denúncia do Ministério Público diz que o juiz aposentado tinha ciúme doentio da vítima e que isso motivou o crime. Eclache Filho teria agido por motivo torpe, fútil e dificultado a defesa de Madalena, que foi morta com tiros nas costas, cabeça e coração.
O exame residuográfico apontou que havia vestígios de pólvora nas mãos da vítima.
- O exame está sendo abolido porque é inconclusivo. Ele sequer diz em qual mão estava a arma. Ela era destra, mas os resíduos estavam na mão direita ou esquerda? Além disso, a pólvora poderia estar nas mãos dela por ela ter tentado agarrá-la para se defender - argumenta Menezes.
O juiz foi detido um dia depois do crime, em Osório. Desde então, está preso preventivamente no Palácio de Polícia, em Porto Alegre. Ele não divide a cela com outros presos e tem algumas comodidades, como acesso a livros, revistas, jornais e TV. Mas precisa arrumar a própria cama e lavar a roupa em um tanque e recebe a mesma comida dos outros presos.