Empossada para mais quatro anos como Presidente da República, Dilma Rousseff apontou a educação como "a prioridade das prioridades" de seu segundo mandato, carregado pelo compromisso de respeitar a política fiscal e a contenção da inflação sem ameaçar as conquistas sociais.
- Novo lema de governo sinaliza a prioridade: Brasil, pátria educadora. Vamos universalizar o acesso a ensino de qualidade em todos os níveis, levar a todos os segmentos da população a educação de qualidade - afirmou a presidente.
Reforma política, uma terceira edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o combate à corrupção também apareceram entre os compromissos do novo governo.
Aos 67 anos, primeira mulher a governar o Brasil foi empossada no Congresso Nacional para o segundo mandato, o quarto consecutivo do PT à frente do país, na tarde desta quinta-feira. O quadriênio se inicia com um cenário distinto do verificado em janeiro de 2011. Ao receber a faixa presidencial de Lula, Dilma assumiu um país que cresceu 7,5%. Quatro anos depois, o crescimento é quase nulo e há dificuldade para segurar a inflação. Do Congresso, a presidente seguiu para o Palácio do Planalto, onde colocou a faixa presidencial pela segunda vez.
Promessa de investimentos em infraestrutura
O cenário fez a petista, reeleita em outubro passado após a eleição mais disputada desde a redemocratização, defender em seu discurso as medidas impopulares adotadas para colocar em ordem as contas do governo, que registrou déficit de quase R$ 20 bilhões em 2014.
- No novo mandato vamos criar, por meio de uma ação firme e sóbria na economia, um ambiente ainda mais favorável aos negócios e ao crescimento sustentável. Combateremos sem trégua a burocracia - afirmou.
Dilma acenou para o mercado com a realização do PAC 3, uma nova versão do plano de infraestrutura e logística e de ampliação do Minha Casa, Minha Vida. Ao longo do discurso, recordou avanços sociais, como ascensão de classes e o acesso à universidade, além do combate à fome.
Defesa da Petrobras e "pacto contra a corrupção"
A presidente refez o pedido de uma reforma política e repetiu a defesa do pacto contra corrupção, já apresentado na campanha. Sobre a Petrobras, defendeu a investigação na Operação Lava Jato e a punição dos envolvidos nos desvios da estatal, mas fez uma defesa da imagem da petroleira.
- Temos que saber apurar e saber punir, sem enfraquecer a Petrobras, nem diminuir a sua importância - disse Dilma.
Muito emocionada, a petista ainda relembrou de sua militância contra o regime militar, que lhe levou a ser presa política, e a vitória sobre um câncer quando ainda era ministra do governo Lula. Prometeu não fugir à luta para melhorar os serviços públicos, como saúde e educação, e iniciar um novo ciclo de desenvolvimento no país.
- Deus colocou em meu peito um coração cheio de amor pelas pessoas e por minha pátria, mas antes de tudo um coração valente que não tem medo da luta.
Foto: Cadu Gomes/Fotos Públicas
À população, Dilma diz que não permitirá perda de direitos
Do parlatório do Palácio do Planalto, com a faixa presidencial outra vez no peito, Dilma Rousseff assumiu diante de milhares de pessoas presentes na Praça dos Três Poderes dizendo que não permitirá a perda de direitos e o retrocesso de avanços sociais. Em seu pronunciamento à nação, a petista reforçou a necessidade de promover ajustes na economia, porém, sem prejudicar os mais necessitados.
- Nenhum direito a menos, nenhum passo atrás. Só mais direitos, mais um passo à frente. Esse é o juramento que faço nessa praça. Viva o Brasil. Viva o povo brasileiro! - disse Dilma.
A primeira mulher a governar o país repetiu o rito de quatro anos atrás. Após refazer o compromisso constitucional e ser empossada no Congresso, Dilma seguiu com a filha Paula em desfile no reluzente Rolls-Royce conversível da presidência, uma relíquia fabricada em 1953 na Inglaterra, até o Planalto, onde desceu outra vez ao pé da rampa do palácio.
Responsável por conduzir ao poder a ex-presa política que se converteu em ministra de perfil técnico e com fama de gerentona, o ex-presidente Lula acompanhou a solenidade entre os convidados, na primeira fila do salão nobre. Festejado por petistas, foi a primeira pessoa a ser cumprimentada por Dilma, de quem recebeu um abraço emocionado.
Logo após saudar Lula, a presidente reeleita seguiu até o parlatório, voltado para Praça dos Três Poderes. Em 10 minutos de fala, repetiu parte do discurso proferido no Congresso.
Dilma não citou o lema "Brasil, pátria educadora", mas prometeu novamente esforço para garantir educação de qualidade da "creche à pós-graduação". Também acenou com melhores serviços públicos, combate à corrupção, maior participação federal na segurança pública e pediu apoio popular para que a reforma política seja realizada. Ainda recordou feitos dos últimos 12 anos de governos petistas.
- Nunca tantos brasileiros ascenderam às classes médias, nunca tantos brasileiros conquistaram empregos - disse. - Nunca as instituições foram tão fortalecidas e respeitadas e nunca se apurou e puniu com tanta transparência a corrupção - completou.
Preocupada com a reação às medidas de cortes de gastos, Dilma defendeu o controle sólido das contas públicas, a fim de conter a inflação e proporcionar aumento do crescimento econômico. Na mesma fala, assegurou que a austeridade não ameaçará direitos trabalhistas e previdenciários. Destacou que "é para este povo, e com este povo que nós vamos governar".
Emocionada, a presidente reeleita teve de conter as lágrimas durante o pronunciamento e assegurou sua "fé" no início de um novo ciclo de avanços sociais e econômicos no Brasil.
- Assumo o segundo mandato com mais esperança do que assumi o primeiro.
Presidente participará de coquetel com delegações estrangeiras
A cerimônia de posse começou às 15h. A petista chegou à frente da Catedral de Brasília e, no Rolls-Royce conversível da presidência, percorreu junto com a filha Paula Rousseff o roteiro da Esplanada dos Ministérios até o Congresso Nacional. Se quatro anos atrás a chuva obrigou a presidente a cumprir o trajeto com o carro fechado, desta vez o tempo colaborou. Vestindo um conjunto de renda nude, Dilma acenou, fez corações e mandou beijos para os espectadores.
Escoltada por batedores e pela cavalaria do Batalhão da Guarda Presidencial, Dilma e o vice Michel Temer subiram a rampa do Congresso, recepcionados pelos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Em caminhada, a petista e o vice cruzaram os salões do palácio, encontraram o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, e entraram no plenário da Câmara.
Após a execução do Hino Nacional, às 15h30min, Dilma repetiu o compromisso de "manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil". Temer leu o mesmo compromisso.
Para as 18h30min está previsto um coquetel com chefes de Estado e delegações estrangeiras, realizado no Itamaraty. Entre chefes e vice-chefes de Estado ou de Governo, estão o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o vice-presidente da China, Li Yuanchao. Os presidentes José Mujica e Tabaré Vázquez (Uruguai), Michelle Bachelet (Chile), Nicolás Maduro (Venezuela), Evo Morales (Bolívia) e Horacio Cartes (Paraguai) são aguardados.
*Zero Hora