Confira a entrevista com o major Guatemi Echart, integrante da gestão do Presídio Central de Porto Alegre sobre a entrada de armas, drogas e celulares na cadeia.
Como entram drogas e celulares no Presídio Central?
Arremesso e sala de visita. No caso do celular, é difícil de burlar por causa do detector de metais. Por isso, há muito arremesso.
Então, descarta haver entrada pelo servidor, pela corrupção?
Descarto. Não é zero, mas em 12 anos tenho conhecimento só de três prisões. Não consigo ver no servidor uma porta de entrada.
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A média de visitas no Central é 250 mil por ano. Mas flagrantes com algo ilícito são poucos.
Em 2014, foram 70. Mas tem de ver quem passou na revista íntima. Em 2014, foram 4.591.
Se de 4,5 mil revistas em 2014 só 70 tinham algo, não é pouco?
São coisas diferentes. A revista íntima não é obrigatória.
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Mas quando a visita se nega, tem de ir embora, certo?
Sim. Mas se alguém tenta entrar com droga em invólucro na vagina, a policial identifica comportamento diferente. Se a visitante nega, vai embora, mas não é presa.
Essas não estão na estatística.
Se há 237 mil visitas e 4 mil são revistadas, restam 233 mil. E não quer dizer que não tivessem algo.
Mas se houve flagrante só em 1,5% , o índice não é baixo?
Quem acompanha o dia a dia sabe que, se a visita traz algo ilícito na primeira vez e não conseguimos detectar comportamento diferente, na segunda está tranquila. Só vamos ter certeza que nenhuma visita entrará com algo ilícito quando estiver funcionando o scanner corporal.
O arremesso de celulares vem de onde e como?
Do total, 80% está no lado dos pavilhões C e D.
Não tem guarda reforçada ali?
Tem. Por isso, apreendemos boa parte. Em 2014, tinha um tipo que era um invólucro com oito, 10 celulares. Pelo peso, caía entre o pavilhão e o muro. Até o policial chegar lá, já tinha sido puxado para a galeria. Depois, reduziram a quantidade, para lançar e cair no pátio.
A segurança nesse lado específico foi reforçada?
Não foi, ela é reforçada.
Não deveria ter mais guaritas?
Tenho três e elas estão cobertas pelo efetivo. Não tem necessidade.
Mas se com isso segue entrando por ali 80% dos arremessos.
A segurança é suficiente. O que reduziu foi acordo com a Justiça que, enquanto houvesse arremesso ao pavilhão D, não entraria mais preso novo lá. Ficaram 30 dias sem entrar, e os arremessos pararam. No fim do ano, voltou. Agora, ficarão mais 30 dias sem ingresso.
Por que a restrição de entrada de presos é punição a eles?
Porque diminui os detentos. Tem preso que não pode ficar em outro lugar, só na 2ª galeria do D.
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