As bolsas de apostas de Londres perderam uma boa oportunidade de fazer dinheiro com o maior mistério suscitado pelo atentado à revista Charlie Hebdo: quem seria o personagem caricaturado na capa da edição que chegou nesta quarta-feira às bancas. Para os apostadores, teria sido uma barbada, sem trocadilho. Afinal, quem não sabia que Maomé era o culpado?
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Luz, o desenhista da capa, não estava num momento particularmente inspirado. A charge não tem graça. Seu Profeta veste branco - o caricaturista do jornal dinamarquês que colocou uma bomba em seu turbante pelo menos teve o rigor histórico de trajá-lo de preto - e se parece com Dick Vigarista. Mas uma publicação que tem Arnold Schwarzenegger como vendedor de assinaturas não precisa fazer piada.
Ninguém, em sã consciência, pode se sentir ofendido pela mais recente edição de Charlie Hebdo. Salvo, talvez, aqueles que conheceram a revista nos bons tempos. Mais ridículo ainda é esperar - ou exigir, como fazem alguns espíritos mais simples - que cada muçulmano ou governo islâmico se "solidarize" com a publicação.
Tem razão o professor Olivier Roy, em artigo indispensável no jornal Le Monde: a "fobia antirreligiosa" de Charlie, oriunda do velho secularismo republicano, "se transformou em discurso identitário apesar de tudo recuperado pela Frente Nacional". Charlie morreu a pior das mortes: tornou-se o seu avesso.
Enquanto isso, o governo François Hollande investe contra os suspeitos de sempre ao enviar o porta-aviões Charles de Gaulle contra o Estado Islâmico na Síria. Talvez o poderoso vaso de guerra sirva como navio-prisão para os cidadãos europeus (mais de 5 mil) que se juntaram às fileiras dos barbudos. Inshallah.