Líder do governo na Assembleia, o deputado Alexandre Postal, em meio ao silêncio do Palácio Piratini, foi destacado para defender José Ivo Sartori após a sanção dos projetos que concediam reajustes salariais aos altos escalões dos três poderes. Entre os beneficiados, estão o próprio governador, o vice, os secretários e membros do topo das carreiras do Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas e Defensoria Pública.
"Vou pagar o preço que tiver de pagar", diz Sartori
Postal argumenta que os reajustes são constitucionais, além de não terem sido enviados à Assembleia pelo governo Sartori. Ele ainda critica a oposição, atribuindo ao ex-governador governador Tarso Genro responsabilidade por dificuldades financeiras, fala de novas medidas de contenção de despesas e promete que, em 15 dias, o Piratini fará uma exposição ampla sobre a realidade financeira do Estado.
ZH - Considera acertada a decisão do governador José Ivo Sartori de sancionar os aumentos salariais logo no momento em que o governo anuncia "medidas duras" e cortes de despesas para conter a crise financeira?
Alexandre Postal - Os parlamentares não tiveram aumento. Foi uma reposição da inflação dos últimos quatro anos. Faz 20 anos que estou na Assembleia, e a cada quatro anos (quando se debate o reajuste do subsídio dos deputados) sempre volta esse debate que nada tem de imoral ou irreal, que é a correção da inflação.
ZH - Entre o discurso e a prática, não há um simbolismo negativo nesse episódio?
Postal - Onde poderia ter um simbolismo, é no salário do governador, vice e secretários. Em primeiro lugar, não foi o governador que pediu o aumento. Em segundo lugar, não havia reajuste para o governador há oito anos. Em terceiro, é justo que o governador ganhe menos do que um deputado ou um presidente de banco? Vamos deixar de hipocrisia.
ZH - Não só na oposição, mas na sociedade há um apontamento de contradição.
Postal - Não enxergo essa contradição. Ontem tivemos esse debate (reunião de deputados aliados com Sartori) e todos acharam que a correção deveria ser sancionada. A oposição hoje tem de explicar como eles gastaram mais em diárias em quatro anos do que nos oito anos anteriores. Os governos Rigotto e Yeda, em valores corrigidos, gastaram R$ 450 milhões em diárias ao longo de oito anos. O governo Tarso sozinho, em quatro anos e também em valores corrigidos, gastou R$ 480 milhões em diárias. A oposição discursou que deixou R$ 360 milhões em caixa, mas só na área da saúde eles deixaram dívidas de R$ 750 milhões. A oposição tinha de ficar bem quietinha pelo menos nos primeiros seis meses para refletir sobre o que eles fizeram nos últimos quatro anos.
ZH - O governo fará uma apresentação mais ampla sobre os números das finanças?
Postal - Temos muitos números que nos passaram na transição e que não estão batendo. Em 15 dias de governo, não temos tudo na mão ainda. Nos deem mais 15 dias que vamos colocar claramente os números e o que está acontecendo. Alguém sabe onde foram parar os R$ 3 bilhões que o governo federal enviou para a CEEE? E os empréstimos, tão propagados, que deveriam repassar R$ 3 bilhões para obras? Onde foram parar? Esse dinheiro foi para o caixa único, foi usado para pagar salários e ficaram as obras contratadas para serem feitas. Tudo isso vai ser mostrado para clarear a situação das finanças.
ZH - O governo irá praticar novas medidas de contenção de gastos? Quando?
Postal - A partir do início ou meados do mês que vem.
ZH - Que medidas serão essas?
Postal - Não estou participando (da discussão). Isso é com a Fazenda e a Casa Civil.
ZH - O governo perdeu o discurso do ajuste fiscal? Não poderia ser vetado?
Postal - Não vejo dificuldade para discursar sobre o ajuste de contas. Esses aumentos não foram mandados para a Assembleia pelo Sartori. Foi tudo votado no período do governo anterior. Se ele vetasse, os deputados iriam ficar oito anos sem reajuste? Ah, para aí também...Existe um princípio constitucional de que os reajustes dos deputados devem ser votados antes do início de cada legislatura. Depois não pode mais por quatro anos. Para as demais carreiras, existe uma lei nacional dizendo que elas devem ganhar 90,25% do salários dos ministros do Supremo.