O sol que anunciava uma tarde bonita desta terça-feira se escondeu atrás das nuvens. Ao mesmo tempo, a maré subia diferente do que de costume. Alcançava lugares que só atinge em fortes tempestades. Pelo celular chegava uma notícia que fez banhistas deixarem a praia, guarda-sóis se fecharem, comércio encostar as portas. Por volta das 13h30min desta terça-feira, morria o surfista Ricardo dos Santos, 24 anos, o Ricardinho.
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"Luto no Paraíso", anunciava o cartaz colocado momentos depois no centrinho da vila da Guarda do Embaú, em Palhoça. Os relatos sobre as alterações do belo cenário esculpido pela natureza são dos moradores. Gente consternada com a perda do menino que viram crescer com a prancha embaixo do braço. Uma comunidade revoltada com a forma com que o mais famoso nativo foi morto.
Ricardinho morreu em consequência dos três tiros que o atingiram na manhã de segunda-feira. Resistiu por quase 30 horas no Hospital Regional de São José, onde passou por três cirurgias. Acostumado a vencer ondas cabulosas (o mesmo que esquisitas no vocabulário dos surfistas), ele não conseguiu aplicar um 360º naquilo que parece cada vez mais banalizado, a violência.
- Passei por ali bem cedo e eles (Ricardinho e o avô) estavam arrumando o cano na frente da casa. Ele me deu bom-dia e levantou a mão - conta Nelson Otavio Marques, pioneiro no serviço de barcos da travessia do canal do Rio da Madre para a praia Guarda do Embaú.
O neto dele também é surfista e amigo de Ricardinho desde criança. Morador da região, o aposentado que trabalha com barraca na beira da praia disse que a notícia da morte do "nosso menino" entristeceu a todos. O impacto foi grande. Além do sucesso da grande promessa do surfe brasileiro, a família é muito conhecida no lugar, onde tem comércios.
Por volta das 17h uma chuva forte desabou. Irrigou a memória dos amigos, que lembravam das qualidades de Ricardinho, a quem consideram desapegado das coisas materiais, humilde e tranquilo.
Até as 21h30min, o corpo ainda não havia chegado à Guarda do Embaú, onde será velado no salão da Paróquia Santa Terezinha. O corpo será sepultado às 10h, em Paulo Lopes.
Surfista foi internado nesta segunda-feira
Vencedor dos prêmios Wave Of The Winter e Andy Irons, o atleta estava internado no Hospital Regional de São José, na Grande Florianópolis, desde a manhã de segunda-feira, dia 19. Ricardinho da Guarda, como se autointitulava, passou por quatro cirurgias após ser baleado na Guarda do Embaú, no município de Palhoça. Na manhã desta terça-feira, ele teve uma parada cardiorrespiratória e veio a óbito.
Por volta das 15h, o corpo do surfista foi liberado para o Instituto Médico Legal (IML). Familiares confirmaram que o velório deve ocorrer ainda nesta terça-feira no Salão Paroquial da Guarda do Embaú, e que o corpo de Ricardo deve se cremado. Uma parte das cinzas deve ser jogada na própria Guarda e outra parte, no Havaí, conforme o desejo da mãe do atleta. A família afirmou também que as córneas de Ricardo dos Santos serão doadas.
- Esperamos justiça. Mais do que um atleta, ele era um jovem, e uma ação dessas vinda de um policial é um absurdo. O cara que surfou as melhores ondas do mundo não morreu na água, morreu nas mãos de um criminoso - desabafou nesta terça-feira Michele Chenale, esposa do padrasto de Ricardo.
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Participante das competições oficiais da liga mundial de surfe desde 2008, o atleta profissional já havia surfado em sete etapas do circuito mundial, além de incontáveis eventos da Qualifying Series (torneio classificatório), incluindo o bicampeonato do Qualifying de Teahupo, o que lhe garantiu uma vaga no WCT do Taiti, em 2012. Mais recentemente, Ricardo estava atuando como surfista independente, especializando-se em ondas grandes.
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Surfista foi atingido por três tiros
O surfista profissional Ricardo dos Santos, 24 anos, conhecido como Ricardinho, foi baleado na manhã desta segunda-feira, por volta das 8h50min. Segundo os bombeiros, ele foi atingido por três tiros e encaminhado pelo helicóptero Arcanjo para o Hospital Regional de São José.
O soldado da PM autor dos disparos, Luis Paulo Mota Brentano, 25 anos, diz que agiu em legítima defesa. Ele sustenta que o surfista e outro homem teriam partido para cima dele com um facão em punho numa discussão por causa do lugar em que estava parado com o carro, na Guarda do Embaú.