A crise hídrica que afeta o Sudeste não se traduz apenas nas torneiras secas de paulistas, mineiros e cariocas. Afeta a economia de todo o país, elevando o preço da energia elétrica, encarecendo alimentos e produtos industriais e pressionando para cima as taxas de desemprego.
O primeiro impacto no bolso já apareceu. Estampados nas contas de luz, os aumentos na casa dos dois dígitos em 2014 devem se repetir em 2015 e nos próximos anos. A alta tem relação com o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas - o que exigiu acionar as termelétricas, muito mais dispendiosas, para manter o abastecimento. No Rio Grande do Sul, o aumento na tarifa pode chegar a 55%, conforme cálculos de Paulo Steele, analista que atuou por cerca de cinco anos na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e hoje trabalha na TR Soluções.
- Precisaremos passar o ano com as usinas térmicas ligadas, mesmo que tenhamos chuva de acordo com a média histórica. A probabilidade é de que passemos 2015 sem racionamento de energia, mas a dúvida segue para 2016 - analisa Mikio Kawai Júnior, diretor-executivo da consultoria Safira Energia.
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A projeção de meteorologistas é de que o nível de precipitação entre dezembro do ano passado e abril de 2015 fique dentro da média histórica. Mas, enquanto isso, verduras, frutas e legumes já estão mais caros. Só no último mês, acumulam alta de 8%, em média, conforme a Fundação do Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
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Com a restrição de captação de água para irrigação, anunciada pelo governo paulista, o impacto na produção será maior e pode abranger até 50% do cultivo de hortifrutigranjeiros do Estado. Sem oferta suficiente, há chance de vendedores importarem mercadorias do Peru, da Argentina e até do Chile para abastecer as prateleiras. O aumento do custo será pago pelos consumidores.
O custo da seca também influencia de maneira indireta outros produtos. No ano passado, a carne, por exemplo, foi o item que mais impactou a inflação, com alta de 22,21%. Com menos chuva, o pasto é prejudicado, o que faz aumentar as despesas para conseguir alimentar o rebanho.
Além da carne, feijão, soja, milho, café, açúcar e tomate já começam a mostrar no preço em janeiro os reflexos da irrigação limitada, conforme mostra o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), prévia do índice oficial de preços. No Rio, a queda na produção hortifruti é de 5% e na de leite chega a 20%.
- É preocupante, pois o período de chuva vai até março, depois começa o período de seca. Se a chuva não for intensa nos próximos dois meses, certamente alguns alimentos deixarão de ser produzidos - avalia Rodolfo Tavares, presidente da Federação de Agricultura do Estado do Rio (Faerj).