Mesmo com o endurecimento das leis de prevenção a incêndios e aumento da fiscalização desde a tragédia na boate Kiss, que matou 242 pessoas Santa Maria há dois anos, os brasileiros se sentem mais inseguros ao frequentar casas noturnas.
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É o que revela uma pesquisa da consultoria norte-americana KRC Research, realizada via internet com 1.011 pessoas de 18 a 64 em todas as regiões do país. O estudo indica que 92% dos entrevistados têm mais receio hoje de ir a boates do que antes do incêndio, e 81% admitem ter mudado de comportamento em locais públicos.
Foram consultados 494 homens e 517 mulheres entre os dias 12 e 17 de dezembro de 2014. Um em cada três brasileiros, de acordo com a pesquisa, está "muito preocupado" com sua segurança pessoal em incêndios. Além disso, cresceu o número de pessoas que acreditam que a chance de envolvimento em fatalidades é mais provável fora do que em casa.
"É preciso melhorar a preparação do público e sua capacidade de reagir a incêndios. Os brasileiros têm alterado muitos dos seus hábitos de segurança contra incêndios, mas as circunstâncias, especialmente no trabalho, estão longe do ideal", concluiu a KRC Research.
Encomendada pela empresa Honeywell Fire Safety, especializada em soluções segurança, a pesquisa, realizada pela primeira vez no Brasil, expõe a fragilidade brasileira em quesitos fundamentais para a prevenção de incêndio, segundo César Miranda, gerente geral do negócio de Fire Safety da empresa na América do Sul e diretor do Grupo Setorial de Sistemas de Detecção e Alarme de Incêndio da Associação Brasileira da Industria Eletro Eletrônica (Abinee):
- As mudanças ainda são bastante superficiais. Alguns dos estados, com a tragédia, começaram a fazer projetos de lei específicos, mas isso ainda é pouco. Deveríamos tentar seguir para o lado de uma lei nacional - avalia.
Há duas semanas, a reportagem de Zero Hora visitou sete casas noturnas de Porto Alegre, na presença de dois engenheiros do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), e verificou que algumas apresentam falhas graves. Eles sugeriram modificações - que serão discutidas pelo Crea e podem entrar na legislação - para proporcionar o mínimo de risco e, consequentemente, diminuir índices de preocupação como os divulgados nessa pesquisa.
- Na Kiss, as pessoas seguiram a luz, procurando a saída, e muitas morreram em um banheiro, que estava claro. Uma melhoria é a ligação automática da iluminação emergencial por um sistema de detecção de fumaça e pelo acionador manual do alarme de incêndio - disse o engenheiro Carlos Wengrover.
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Leis criadas para prevenir incêndios como o da Kiss ainda não trazem resultado
Ele ressaltou que as boates são, geralmente, fechadas para não deixar escapar o som e "em caso de incêndio, a fumaça preenche todo o ambiente em segundos. Por isso, sistemas de aberturas superiores nas paredes e/ou nos tetos seriam necessários. Os extintores devem ficar bem visíveis, em locais facilmente acessíveis pelos funcionários treinados, mas protegidos e vigiados contra irresponsáveis".
A pesquisa mostra também que os brasileiros são praticamente unânimes em afirmar que mudaram hábitos de segurança e preocupação devido ao incêndio na Kiss. Em itens mais específicos, ainda existe resistência, conforme a KRC Research. Dos 1.011 entrevistados, 45% responderam que procuram mais por saídas de emergência nos prédios, 40% evitam visitar locais lotados e 35% procuram mais por equipamentos como detectores de fumaça, extintores de incêndio e alarmes de incêndio em edifícios.
Quando perguntados sobre as políticas de prevenção, quase três quartos dos brasileiros disseram que os governos federal e estadual e os empresários e gestores são os responsáveis pela segurança, mais do que bombeiros e policiais. Além disso, 81% entendem que "o governo não está fazendo o suficiente".
"A partir de uma lista de possíveis equipamentos e procedimentos de segurança, os consultados estão mais propensos a dizer que o governo deveria exigir iluminação nas placas de saídas (80%), seguido por alarmes de incêndio (78%), sprinklers (75%) e caminhos de evacuação iluminados (72%). Menos de um por cento disse que o governo não deve exigir qualquer um dos itens listados", finaliza.
Para César Miranda, a questão da informação e educação da população sobre o que fazer em casos de emergência, deficitária, também dificulta o trabalho de prevenção. Por outro lado, o especialista vê como positiva a mudança de postura das pessoas em relação aos locais que frequentam.
- As pessoas começaram a perceber que estão expostas a um risco maior, mas não sabem o que fazer se acontecer alguma coisa. A população evoluiu de modo geral, agora precisamos de um engajamento de diversos setores da sociedade para que daqui dois ou três anos, quando a gente refizer essa pesquisa, o resultado seja diferente.
Honeywell Fire Safety, Divulgação
*ZERO HORA