A regra é ficar calado, como mostra o depoimento de uma testemunha em processo de 2007, contra a gangue dos Minhocas, que agora comanda o tráfico na Vila Safira. Um criminoso teria dito: "Agora, o bicho vai pegar, prenderam o Minhoquinha (irmão do homem apontado como líder da quadrilha) porque aquela velha e a (...) entregaram ele, mas eu vou pegar essa velha. Se ela for na polícia, eu vou picar ela bem picadinha e arrancar os cabelos dela, e depois vou pegar todos da família dela".
Só em abril deste ano, sete anos depois, 12 integrantes da quadrilha foram pronunciados - e aguardam o júri.
No final de 2012, o Recanto do Sabiá, o Loteamento Timbaúva, centro nevrálgico da gangue do Gordo Dé, havia se transformado em uma vila fantasma, tamanha a debandada de moradores amedrontados. No fundo, às margens do Arroio Feijó, havia um cemitério clandestino.
A rotina de quem vive no meio da guerra do tráfico
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- Eles não disputam apenas pontos de tráfico, mas poder. Pelas características dos dois grupos, existe uma necessidade de afirmação e conquista de status no crime - diz a delegada Jeiselaure Souza.
Troca de lideranças é constante
A maior parte dos líderes dos dois lados foi presa entre 2011 e 2012, quando as disputas do tráfico na região do Mario Quintana viveram outro momento efervescente. A polícia acredita estar lidando agora com criminosos que, na época, ainda eram adolescentes e serviam como auxiliares na linha de frente do crime.
- Eles repetem o padrão de violência - afirma a delegada.
E, ao que tudo indica, seguem aos mesmos comandos de sempre. Há suspeita de que o estopim da guerra esteja ligado, justamente, à volta para as ruas de pelo menos uma liderança influente no tráfico do bairro. Ele teria se aproveitado do aparente enfraquecimento dos rivais.
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O perigo como vizinho
Ninguém sabe, ninguém viu
Conseguir depoimentos que revelem envolvidos em assassinatos na guerra do Bairro Mario Quintana é sempre um desafio para a polícia. Mesmo entre os vizinhos, comentar sobre os recentes crimes é um risco.
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