A Polícia Civil, a Polícia Federal (PF) e a Brigada Militar (BM) estão juntando informações para entender como ocorreu o conflito entre índios caingangues e agricultores que resultou na morte dos irmãos Alcemar Batista de Souza, 41 anos, e Anderson Souza, 26 anos, no final da tarde de segunda-feira, em Faxinalzinho, pequena cidade agrícola no norte do Estado.
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A rigor, o confronto começou na madrugada de segunda. Protestando contra a lentidão na demarcação das terras reivindicadas pelos índios, o cacique dos caingangues, Deoclides de Paula, 42 anos, ordenou a um contingente de 120 índios que trancassem com toras as estradas de Faxinalzinho.
- Ainda na madrugada, o pai (José Noel Mussi Lara, 73 anos) foi surpreendido pelos troncos na estrada. Os índios desceram ele do carro, o agrediram e quebraram os vidros do auto - reclama Neusa Mussi Lara.
No meio da tarde, um grupo de colonos da comunidade de Coxilhão Aparecida, a sete quilômetros do centro da cidade, começou a ensaiar uma reação contra o bloqueio. Eles precisavam liberar as estradas para a passagem dos caminhões com rações para suínos, uma importante fonte de renda na região. Os dois irmãos, mais outros vizinhos, entre eles Paulo Prates de Moraes, se arriscaram a retirar da estrada toras que bloqueavam a passagem dos caminhões.
- Não tinha índio lá, só as toras. Então, nós as serramos e passamos com o caminhão - descreve Moraes.
Mas os índios estavam nas redondas. Ao perceberem a movimentação, um grupo de aproximadamente 30 indígenas, armados com espingardas, paus e pedras, saiu do mato e correu em direção aos colonos, que fugiram.
Moraes conseguiu se esconder. Os dois irmãos correram entre um milharal seguidos de perto pelos caingangues. Anderson conseguiu ligar para a cunhada, Eliane Rosali de Souza, casada com o Alcemar, e avisar que estavam fugindo dos índios e que era para ela telefonar para a BM.
- Eu liguei para Brigada. Em minutos, retornei a ligação para ele, mas ninguém atendeu. Creio que já estavam mortos - comenta Eliane.
Uma patrulha da BM chegou no local ainda em tempo de os soldados enxergarem os índios correndo pela estrada. Os dois já tinham sido executados a tiros e pauladas.
- Não foi um conflito por terra, os dois foram vítimas de uma execução - diz o capitão Mauri José Bergano, do 13º Batalhão de Polícia Militar (BPM).
O cacique disse que as mortes foram um fato isolado, dentro da luta dos índios pela retomada de suas terras.
Pequena cidade agrícola está de luto pela morte de dois agricultores
Foto: Carlos Macedo
Veja no mapa onde ocorreu o conflito: