Confira abaixo a entrevista com Roberto Liebgott, membro do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) regional sul.
Zero Hora - Como estão os processos de retomada das terras indígenas no norte do Estado?
Roberto Liebgott - A maior tensão está no processo de demarcação que já dura 12 anos e ainda não foi concluído. A demora deixa um clima de incerteza tanto para os indígenas quanto para os agricultores, gera um tensionamento entre os índios que lutam pela terra e os agricultores que residem na área.
ZH - Qual a solução?
Liebgott - Onde se comprova que as terras são indígenas, cabe ao governo federal fazer a demarcação e indenizar todas as famílias de agricultores afetas pela demarcação. Além disso, essas famílias têm o direito de reassentamento em outras terras, o que deve ser feito pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
ZH - Qual a origem do conflito?
Liebgott - No final dos ano 1970, houve um processo de reconquista das terras pelos índios. Famílias de pequenos agricultores saíram da área e foram para a Encruzilhada Natalino, no município de Rona Alta. Eles exigiram do governo novas terras e, a partir desta luta, originou-se o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
ZH - Mas esses produtores rurais têm a propriedade da terra.
Liebgott - Agora o processo é diferente. Tanto o governo federal quanto o estadual lotearam essas terras e entregaram para empresas, que adquiriam e venderam os lotes para famílias nas décadas de 1940 e 1950. Só que as empresas foram removendo os índios dessas áreas e levando-os para reservas que o SPI (Serviço de Proteção ao Índio) criou. Mas elas ficaram superpovoadas e os índios acabaram voltando.
ZH - Como se prova que a terra era indígena?
Liebgott - A Funai cria um grupo técnico de trabalho multidisciplinar para ver se, de fato, o pedido dos índios se comprova ou não. Se comprovado, o governo tem que demarcar a terra.
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Veja no mapa onde ocorreu o conflito: