Um ato que tinha o objetivo de chamar a atenção do governo para a lentidão do processo de regularização da Terra Indígena Rio dos Índios, em Vicente Dutra, no norte do Estado, terminou em agressão e no incêndio de dois escritórios comerciais.
Cansados de esperar pela terra, um grupo de cerca de 50 índios decidiu invadir na noite de quarta-feira um balneário de águas termais que fica localizado dentro da área demarcada como indígena. No total, a terra Rio dos Índios possui 715 hectares. Já o complexo turístico Termas Minerais Águas do Prado ocupa cerca de 25 hectares e possui 196 cabanas construídas, que recebem cerca de 20 mil visitantes por ano. Quando chegaram ao local, no entanto, os indígenas entraram em confronto com o vigia do estabelecimento.
O vigilante Altair dos Santos Bueno, 48 anos, conta que por volta das 19h um dos veículos dos índios teria colidido com um carro estacionado em frente ao balneário, o que o motivou a deixar a guarita onde trabalhava.
- Perguntei para eles o que estavam fazendo e eles disseram que era para eu sair, se não iria sobrar para mim. Em seguida, eu fui agredido com pedras, flechas e facão - relata.
Já o vice-cacique Luis Salvador afirma que, quando os índios chegaram ao pórtico de entrada do balneário, o vigia os recebeu a tiros, o que teria motivado a briga. Confira a entrevista com ele.
Zero Hora - Por que vocês resolveram invadir o balneário?
Luis Salvador - Nós temos direito de ocupar o espaço e essa ocupação é para pressionar o governo a agilizar a nossa posse da terra. Estamos morando há vinte anos em uma área de só dois hectares dentro da nossa terra, que tem 715 hectares, e queremos pressa na indenização dos agricultores e das pessoas que têm cabanas no balneário, para que eles possam sair da área. Queremos que o governo dê outras terras para os pequenos agricultores e essa é a única forma que temos para chamar atenção à nossa causa.
Zero Hora - O que motivou o grupo a entrar em confronto com o vigia?
Salvador - Chegamos para ocupar o balneário e ele veio para cima dos índios atirando. O grupo não aceitou que ele usasse uma arma da foto e a briga começou. Um dos índios foi ferido com um golpe de faca. Outros brancos também se envolveram no conflito, mas fugiram e deixaram o guarda sozinho. Ele é um homem que tem uma rixa antiga com os índios e já tinha nos provocado outras vezes.
Zero Hora - Por que os escritórios foram incendiados?
Salvador - Isso também foi para chamar a atenção do governo. Queremos pressa nas indenizações. O processo de regularização hoje está parado por causa disso. Eles não vão deixar a área se não forem indenizados.
Zero Hora - Esta atitude acabou prejudicando as pessoas que têm ações judiciais elaboradas pelo escritório jurídico e não estão envolvidas no conflito. O que o senhor pensa disso?
Salvador - Prejudicou os donos dos escritórios, que estão envolvidos no conflito sim. Eles não deixam os índios usarem a área do balneário para pegar material para fazer artesanato. Eles não respeitam nosso trabalho, ainda existe muito racismo. Queremos ser respeitados.