O burro, indivíduo que se caracteriza por oblíquos raciocínios, quando envereda pela burrice, faz um trajeto reto, nunca desvia de rumo.
Interessante é que o burro para si próprio parece ser brilhante: o burro possui atilado orgulho.
Não raro, em nosso meio, o burro se consagra exatamente por ser burro. Alguns burros ficam famosos pela sua burrice.
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O burro é como uma parede de aço, sua burrice é imarcescivelmente férrea: a ideia bate na cabeça do burro e volta, ela não penetra.
Invariavelmente, o burro é um debatedor, quase ninguém concorda com ele, aliás, só concorda com ele quem for também burro.
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Existem os burros cordatos e os burros enraivecidos.
O burro enraivecido é aquele que puxa briga quando discordam dele.
E o burro cordato é o que se conforma com sua burrice. Ele é humilde, sabe que é burro e admite sua inferioridade: é o tipo mais raro de burro.
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O burro não se corrige, não se regenera, nasce burro e morre burro.
A caixa craniana do burro é feita de material impenetrável, nada a vaza, nem as ideias mais magistrais.
Se você atirar um burro na água profunda, a sua cabeça, podem notar, será a única parte de seu corpo que ficará boiando, ela é vedada completamente à água e às ideias inteligentes.
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Também interessante é que o burro quase sempre se acha inteligente, exceção feita ao burro humilde.
Ele passa a vida inteira achando que é brilhante e que a sociedade não lhe faz justiça.
Mas ele vai em frente na esperança de que um dia lhe considerem genial.
A burrice é um exercício de perseverança, de não desistência. Afinal, o que o burro vai fazer, se não sabe fazer outra coisa senão ser burro para sempre?
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O mundo é feito de burros e inteligentes.
O burro dá azar de ser burro. Mas há um ponto de vista que considera um burro feliz por ser burro: por passar a vida inteira sem se dar ao trabalho de pensar, o que desgasta muito os que pensam.
Com o burro não se dá assim: sabe lá que vantagem têm essas criaturas burras de viver a vida inteira sem pensar?
É uma moleza! Quem não pensa não sofre.