Uma técnica muito usada por produtores de programas de debates em rádio e televisão é colocar entre os debatedores uma pessoa burra.
Então o burro passa a dar opiniões estapafúrdias que suscitam imediatamente opiniões lúcidas e às vezes até brilhantes dos outros debatedores, com o que ganham os programas em prestígio e audiência.
-
Mas, em meio a isso, ocorre um fato fenomenal: quando o burro é repetido à exaustão no programa, ele acaba ficando famoso.
Temos então vários casos de burros famosos, que se consagram pela sua burrice.
-
E, na maioria das vezes, o burro famoso não sabe que se destaca pela sua burrice. No caso, o burro pensa que se consagra pela sua inteligência, cultura e sensibilidade.
Claro, ele só saberia que se consagra pela sua burrice se não fosse burro.
-
É célebre aqui na RBS o caso do comentarista Luís Carlos Prates, que trabalhou muitos anos nas rádios Gaúcha e Guaíba.
Nós fazíamos um programa, lá pelos anos de 1975 ou 76, na Rádio Gaúcha. Era de debates, mas todos os dias eram os mesmos debatedores. O programa ia ao ar pela manhã e foi tirado do ar para que entrasse em seu lugar o programa Atualidade.
Os debatedores éramos o Glênio Peres, a dona Dercy Furtado, o Luís Carlos Prates, o coronel Pedro Américo Leal e eu.
Salientava-se no programa o Luís Carlos Prates com suas opiniões esdrúxulas, agressivas e excêntricas.
Quem tinha bolado o programa era o fundador da RBS, Maurício Sirotsky, que adorava rádio e seguidamente se envolvia na produção de programas para a emissora.
Era tão destacada a "loucura" do Prates no programa que Maurício Sirotsky um dia o chamou a sua sala e disse a ele: "Parabéns, Prates. É sensacional e espetacular o tipo que tu estás fazendo no programa".
Ao que o Prates respondeu ao seu Maurício: "Aceito os parabéns mas afirmo que não é tipo o que faço no programa, eu sou assim mesmo".
-
Não é o caso do Prates, que era muito preparado e inteligente, até formado em Psicologia.
Mas há burros que se tornam tipos nos programas. E são tipos que se arrastam por anos a fio na sintonia.
Quem foi que disse que a burrice não é inspiradora?