Há quase quatro décadas, Jayme Prawer apreciava o aroma de chocolate das geladas ruas de San Carlos de Bariloche, quando um doce sonho de infância lhe veio à mente. Então com 49 anos, o dentista porto-alegrense alimentava desde os 10 anos o desejo de morar em Gramado. Frio, belo e aconchegante, o polo turístico argentino lhe remeteu à cidade serrana, com flagrantes semelhanças no clima e na arquitetura. A diferença fundamental estava no perfume adocicado de suas chocolaterias. Mas por pouco tempo.
De espírito empreendedor, Prawer mal desfez as malas na capital gaúcha. Com as prazerosas barras que derretiam na boca, trazia na bagagem a ideia de reproduzir em Gramado o que vira em Bariloche - uma cidade bonita, aconchegante e, sobretudo, perfumada de chocolate.
Acompanhado de um experiente confeiteiro, Prawer embarcou de volta à Argentina para desvendar os segredos da Suíça latina. No retorno ao Brasil, com mais um assistente a tiracolo - um chocolateiro argentino -, começou a desenvolver as primeiras receitas do que viria a ser a guloseima artesanal gramadense. Misturando amêndoas, leite, açúcar, português e espanhol na medida certa, Prawer fundava, assim, o primeiro polo de chocolate caseiro do Brasil.
Pouco depois da segunda viagem ao país vizinho, a fábrica começava a operar, em área de 70 metros quadrados. No fim de 1975, enquanto o casal Prawer fixava residência na Serra, das mãos de três artesãos surgiam as primeiras barras e ramas com cara de Bariloche e selo made in Brazil.
A primeira loja surgiu em 1976, às vésperas da quarta edição do Festival de Cinema de Gramado. Em depoimento à revista comemorativa aos 35 anos da empresa, Prawer contou: "quando os jornalistas de todo o país chegaram, se entusiasmaram, pois conheciam esse produto apenas de Bariloche. Nunca haviam visto nada igual no Brasil. Foi um estouro."
Churrasco, café colonial e guloseimas
Até então, o porto-alegrense conciliava as atividades de dentista na Capital, de segunda a sexta, com negócios na Serra, nos fins de semana. Com sua fantástica fábrica de chocolates, em uma dentada só, Prawer saboreava dois de seus maiores projetos de vida: empreender e morar em Gramado.
Dono de uma churrascaria desde 1970, ele já havia inaugurado outro modelo de negócio que se tornaria símbolo turístico da Serra. Inspirado nas visitas que fazia aos clientes nos intervalos entre obturações, extrações e tratamentos de canais, criou o Café Colonial Bela Vista, em 1972.
- Como dentista, atendia os clientes na cidade e os visitava no Interior, onde conhecia o estilo de café que tomavam. Resolvi colocar na mesa tudo o que via na casa dos colonos e dos alemães - lembrou, anos depois.
Atualmente com 87 anos, o empresário está afastado da fábrica há uma década e meia. Os negócios são dirigidos por sua filha mais jovem, Nádia, que assumiu o comando no fim de 2005, e pelo diretor Maurício Brock, ex-proprietário de uma empresa de recuperação de tributos:
- Conheci chocolate aqui. Entendia só de comer. Gostava e gosto muito - diz o executivo, isentando o chocolate em sua luta contra a balança.
Com 26 lojas (quatro próprias e 22 licenciadas - no Rio Grande do Sul, em São Paulo, em Minas Gerais e no Distrito Federal), a Prawer pretende contar com mais 15 unidades licenciadas até o fim de 2014. À base de açúcar e altos percentuais de cacau, em receitas aprimoradas a partir de pesquisas em França, Suíça e Bélgica, Brock pretende engordar o faturamento da empresa com R$ 12 milhões neste ano, alcançando R$ 30 milhões em 2014.
A principal aposta é a aquisição de um equipamento que aumentará a capacidade de produção sem afetar a marca registrada da Prawer. Dessa forma, os 150 sabores e formatos seguirão sendo artesanais, diferenciando-se por suas características como textura, aparência e, claro, sabor.
- Com a aquisição dessa máquina, temos condições de quadruplicar a produção. Isso vai se refletir em novas lojas, produtos e parceiros que estamos procurando.
Perfil
Origem: Gramado
Fundação: 1975
Descrição: pioneira na fabricação de chocolates artesanais no Brasil
Faturamento em 2012: R$ 7 milhões
Projeção de faturamento para 2013: R$ 12 milhões
Número de funcionários: varia de 90 a cem (nos momentos de maior necessidade de produção)
Unidades: quatro lojas próprias (em Gramado) e 22 lojas licenciadas (Rio Grande do Sul, São Paulo, Distrito Federal e Minas Gerais)
Previsão para 2014: faturamento de R$ 30 milhões. Abertura de 15 novas lojas, todas licenciadas - totalizando quatro lojas próprias e 37 licenciadas em todo o país