
Princesa tinha oito súditos ao seu dispor. Do lençol que cobria seu corpo ao equipamento que monitorava seus batimentos cardíacos durante o sono profundo induzido pela anestesia, nenhum detalhe escapava à equipe médica.
Enquanto ela se mantinha ligada aos monitores por meio de tubos de oxigênio, soro e anestésico, um arsenal de tesouras, pinças e material para sutura aguardava na mesa ao lado o momento para entrar em cena.
Na tela, as imagens geradas por uma microcâmera inserida a partir de um minúsculo orifício no abdômen da paciente eram ampliadas em 20 vezes, permitindo a realização da cirurgia de laqueadura sem derramar uma gota de sangue sequer durante uma hora na mesa de operação.
Princesa é uma gata com traços de siamesa, mas não de raça pura. Ela tem seis meses de vida e pesa pouco mais de dois quilos.
A tecnologia investida na realização de uma cirurgia de esterilização, a mais corriqueira em cães e gatos, é justificada por ser minimamente invasiva, com risco de infecção reduzido e totalmente indolor. É mais um reflexo da aproximação entre os métodos da medicina veterinária com os procedimentos realizados em humanos.
- Ao invés de uma incisão grande, bastam duas ou três punções - resume a veterinária Fabiana Schiochet, cirurgiã que comandou a equipe no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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Donos mais exigentes impulsionam o setor
Saindo do bloco cirúrgico, salas de ultrassonografia e raio-X, além de unidades de internação e atendimento ambulatorial lembram a estrutura de um hospital convencional, mas quem circula pelos corredores são cães e gatos. Os donos não medem esforços pelo bem-estar dos bichos e saem com prontuário médico debaixo do braço em busca do melhor especialista para curar o mascote.
Além do estreitamento da relação humana com cães e gatos, que eleva o nível de exigência com a saúde dos bichos, há outros estímulos que impulsionam a profissão a se segmentar.
- O mercado pet cresce 10% ao ano, a melhor condição econômica da população faz com que as pessoas invistam mais na saúde dos animais, que significam tanto para elas, e a indústria farmacêutica e de diagnósticos abre o leque para a atuação na veterinária - enumera o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária no Estado (CRMV), Rodrigo Marques Lorenzoni.
Os rumos da profissão avançam em ritmo tão intenso que a regulamentação mal consegue acompanhar: somente cinco especialidades foram reconhecidas até hoje. A tendência é que áreas consagradas, como cardiologia, oftalmologia e dermatologia, sigam o mesmo caminho nos próximos anos.
Na prática, os avanços da medicina já estão amplamente ao alcance de todos os membros da família, inclusive dos mascotes.
As especialidades (animais) reconhecidas
- Medicina intensiva
- Homeopatia
- Patologia
- Cirurgia
- Anestesiologia
Mercado gigante
- Há 101 milhões de animais de estimação no Brasil, sendo 35,7 milhões de cães e 19,8 milhões de gatos.
- O mercado pet fatura cerca de R$ 20 bilhões por ano e gera em torno de 1 milhão de empregos diretos e indiretos.
- Em 2012, o gasto com animais de estimação por habitante aumentou 13% em relação ao ano anterior.
- 56% dos lares de Porto Alegre têm pets.
- O Hospital de Clínicas Veterinárias da UFRGS atende 20 mil animais por ano, só perde para a Universidade de São Paulo, que atende 50 mil.
Fontes: comissão para Animais de Companhia (Comac), Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindam), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Ibope.