É difícil imaginar Isabelle Huppert, uma das melhores atrizes do cinema, sendo ofuscada em cena. Em Amor, como a filha dos personagens de Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant, ela é isso: uma presença absolutamente secundária nos momentos em que aparece contracenando com o casal de protagonistas.
> Filme mais aclamado da temporada, Amor estreia nesta sexta-feira
Não à toa, os veteranos atores escolhidos pelo diretor Michael Haneke para a linha de frente do elenco de um de seus mais festejados filmes são duas verdadeiras lendas vivas. Estiveram em clássicos europeus das últimas décadas do século 20 e receberam prêmios em alguns dos principais festivais do mundo. Conheça, abaixo, um pouco mais dessas duas trajetórias, e de sua aclamação ao longo dos anos.
Jean-Louis Trintignant
> Natural de Piolenc, sudeste da França, tem 82 anos. Estudou advocacia antes de se dedicar ao teatro - o que fez aos 20 anos. Foi Roger Vadim o primeiro diretor a lhe dar um papel importante - em E Deus Criou a Mulher (1956).
> Lançado quando Trintignant tinha 26 anos, E Deus Criou a Mulher o alçou ao estrelato. Em seguida, no entanto, o ator desistiu da carreira e se alistou no exército francês. À época, a imprensa noticiara um suposto envolvimento seu com a estrela do longa, Brigitte Bardot. A volta por cima ele daria ao dividir a cena com Anouk Aimée em Um Homem, uma Mulher (1966), de Claude Lelouch.
> Um papel emblemático foi o do protagonista de O Conformista (1970), o longa de Bernardo Bertolucci que é um dos maiores filmes políticos do século 20. Nos dois anos anteriores ele já havia saído consagrado com os prêmios de melhor ator nos festivais de Berlim (por O Homem que Mente, de Alain Robbe-Grillet, em 1968) e Cannes (por Z, de Costa-Gavras, em 1969).
> Com mais de cem filmes no currículo, foi dirigido por Truffaut (De Repente num Domingo), Kieslowski (A Fraternidade É Vermelha), Régis Wargnier (A Mulher de Minha Vida) e Ettore Scola (Casanova e a Revolução), entre outros. É apontado como um especialista em figuras misteriosas e de moral dúbia - tal qual Marcello Clerici, o mítico Conformista de Bertolucci.
Emmanuelle Riva
> Aos 85 anos (completará 86 em 24 de fevereiro, dia do Oscar), tem no currículo um troféu de melhor atriz no Festival de Veneza de 1962 (pela cinebiografia Thérèse Desqueyroux, de Georges Franju). Mas é de um filme lançado três anos antes o seu papel mais festejado - o da atriz francesa que se envolve com um arquiteto japonês em Hiroshima, Meu Amor (1959), de Alain Resnais.
> Filha de imigrantes italianos, Emmanuelle Riva nasceu em Cheniménil, no nordeste francês. Já tinha 32 anos quando filmou Hiroshima..., mas este foi seu primeiro papel no cinema. É que, antes de atuar, teve de buscar sua independência - para seu pai, atriz era sinônimo de prostituta, relataram reportagens sobre ela após a comoção mundial causada pelo belo longa de Alain Resnais.
> A carreira de Riva é menos prolífica do que a de Trintignant, mas inclui aparições em As Horas do Amor (1963), de Luciano Salce, Irei Como um Cavalo Louco (1973), de Fernando Arrabal, Olhos na Boca (1982), de Marco Bellocchio, e Liberté, la Nuit (1983), de Philippe Garrel, entre outros.
> Uma curiosidade sobre o encontro entre a eterna musa de Resnais e Trintignant: antes, o casal de Amor integrou a Trilogia das Cores de Krzysztof Kieslowski. Ela, no entanto, figura apenas em A Liberdade É Azul (1993), e com bem menos destaque do que ele, um dos protagonistas de A Fraternidade É Vermelha (1994).
Um homem, uma mulher
Atores veteranos de 'Amor' são verdadeiras lendas vivas do cinema
Conheça as trajetórias de Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva
Daniel Feix
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project