Motivados pela falta de apoio do Estado para a educação pública, os professores do Colégio Estadual Florinda Tubino Sampaio escreveram uma carta endereçada ao secretário estadual de Educação, Jose Clovis de Azevedo. O documento foi entregue a José Valdir Rodrigues, assessor de gabinete, que representou o titular da pasta durante o evento da campanha A Educação Precisa de Respostas, que ofereceu oficinas e palestras a estudantes, pais e educadores da escola.
O documento busca o atendimento de dois principais pontos, considerados falhos pelos educadores do colégio: o salário do magistério e o investimento em qualificação.
- Hoje, um professor do Estado, concursado, com 20 horas semanais, precisa trabalhar 16 horas em sala de aula e tem 4 horas que são empregadas na preparação das aulas, na correção das provas, em reuniões etc. Faz isso por um salário inicial bruto de 791 reais (pago aos novos professores do Ensino Médio nomeados após o último concurso), o qual praticamente não aumenta ao longo da carreira. Já nas 20 escolas privadas que melhor pagam no Estado, o salário médio por 16 horas é de R$ 2,9 mil. Naquelas que menos pagam, esse é de, pelo menos, R$ 1,4 mil - afirma a carta.
A atualização do corpo docente, tema também abordado no texto, é visto como um dos principais pontos para qualificar a educação pública. Boa parte dos investimentos que o colégio recebe nessa área vem de parcerias com entidades privadas, afirmam os professores.
- Esse tipo de investimento é muito relevante. Eu me formei em 1987 e só fui fazer uma especialização por meio desse tipo de parceria, paga pelo Instituto Unibanco. Por causa disso, hoje a minha aula é muito melhor. Mas é importante que a especialização seja feita na área de atuação do profissional, e não em cursos genéricos, como costuma acontecer - diz Cristina Mello, professora de história do Tubino Sampaio há 20 anos.
Um dos principais efeitos de uma melhoria na educação pública, dizem os professores, seria a diminuição da desigualdade econômica e social.
- Se nós quisermos equiparar a situação de pobres e ricos, nós temos que mudar a situação do ensino. Professores pouco estimulados e sem aperfeiçoamento não são capazes de mudar a realidade de nossa educação - observa Gabriel Goldmeier, professor de filosofia e um dos responsáveis pela redação da carta.
O que diz a Secretaria de Estado de Educação
Maria Eulalia Nascimento, secretária-adjunta de educação do Rio Grande do Sul, falou sobre a carta:
"Sobre o piso, eles querem aumento de salário, nós também. É por isso que o salário dos professores do RS está sendo reajustado em 76,98%. Na carta, os professores do Tubino fazem um comparativo entre o salário dos professores da rede privada com os da rede pública. O diferencial é que os professores da rede privada não têm plano de carreira como os da rede pública. Os professores da rede estadual do Rio Grande do Sul podem ter uma variação salarial de mais 400% quando chegam no fim de carreira.
Na carta, eles também pedem que a carga horária do professor seja dividida pela metade. 50% para sala de aula e 50% para preparação e correção de provas. Com uma rede de 77 mil professores, por enquanto é inviável algo assim. Acreditamos que a divisão atual em 1/3 já é um grande avanço.
Sobre a qualidade do ensino do Tubino em relação a outras escolas públicas, não posso opinar pois não sei a partir do que está sendo comparado.
A impressão que a carta passa é que tudo de bom que a escola tem é por causa da iniciativa privada e de que tudo que é ruim é culpa do Estado. Há pouco tempo o Tubino recebeu da secretaria de educação, por exemplo, 10 novos computadores.
Ainda sobre o reajuste salarial: a diferença de salário entre o professor de nível médio e o graduado é de 85%. A diferença de salário entre o professor de nível médio em relação ao pós-graduado é de 100%. A diferença de salário entre o graduado e o pós-graduado é de 15%.
O professor em fim de carreira que recebe hoje algo como R$ 3,3 mil, no final de 2014 receberá 5 mil reais. Nenhum outro profissional nesse país terá um reajuste como esse.
A Secretaria de Educação fez mais de 900 obras entre 2011 e 2012 nas escolas e ainda concluiu obras paralisadas desde 2009. Estamos também com o Programa de Necessidade de Obras (PNO), que é para escolas que precisam de reformas completas, globais. O PNO tem 17 itens, entre eles: sala de estudos para professores, paisagismo, ginásio para esportes, climatização, cozinha e refeitório, acessibilidade e ambiente wireless. 1028 escolas farão parte desse programa. O Tubino está contemplado no programa.
Temos que atender com atenção a demanda. A Secretaria de Educação está sempre aberta para o diálogo."