O cineasta português Miguel Gonçalves Mendes cancelou a vinda a Porto Alegre. Ele estaria na Capital para uma sessão comentada do documentário José e Pilar (2010), nesta quarta-feira, no Cine Santander Cultural (conforme noticiado no Segundo Caderno desta quarta, que já havia sido impresso quando do anúncio do cancelamento de sua viagem).
José e Pilar põe em foco a vida do vencedor do Nobel de Literatura a partir da relação com sua mulher, Pilar del Río - o diretor Gonçalves Mendes acompanhou o casal ao longo de dois anos, entre 2006 e 2008, enquanto o escritor criava e, depois, promovia seu livro A Viagem do Elefante.
O filme está em exibição no Cine Santander Cultural até sábado. Aclamado por público e crítica, foi o documentário português mais visto nos cinemas daquele país (vendeu 22 mil ingressos por lá) e é o primeiro título não-ficcional a ser escolhido para representar Portugal na corrida do Oscar.
No Brasil (vale lembrar que o longa é uma coprodução entre Portugal, Brasil e Espanha), somou mais de 40 mil espectadores em uma carreira que durou cinco meses nas salas de cinema do país.
Além do filme em exibição no Cine Santander, José e Pilar também virou um livro, que foi lançado em agosto no Brasil. José e Pilar - Conversas Inéditas (Companhia das Letras, 224 páginas, R$ 34,50) traz depoimentos coletados no período que o diretor Miguel Gonçalves Mendes passou com o casal.
Tratando de temas como arte, trabalho e amor, o material serviu de substrato para o filme. Entre outros momentos surpreendentes, Saramago conta um sonho de infância e contempla a paisagem em um trajeto de carro. A certa altura, a mulher relata a proximidade entre o lado pessoal e o lado autoral de Saramago: "Há poucas diferenças entre o autor do livro, a voz do narrador e o que expressa o livro".
O escritor, por sua vez, não foge de temas polêmicos que o acompanharam, como a crítica à crença em Deus, que considerava uma "superstição paralisante". O prefácio é de Valter Hugo Mãe.