O reitor e o vice-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul pretendem trabalhar nos próximos quatro anos para que a UFRGS alcance um patamar internacional. Carlos Alexandre Netto e Rui Vicente Oppermann, que às 10h desta quarta-feira serão reconduzidos aos cargos de comando da instituição, prometem um salto de qualidade nos próximos anos, com investimentos em infraestrutura, intercâmbios internacionais e um novo campus no Litoral Norte.
Entre os investimentos anunciados, estão uma biblioteca de 10 andares, no Campus do Vale, e o início de um parque tecnológico e científico já em 2013, atraindo parcerias entre a universidade e empresas públicas e privadas. Eles também anunciaram uma revisão da importância do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na seleção dos milhares de vestibulandos que lutam por uma vaga na UFRGS.
Confira abaixo trechos da entrevista concedida a Zero Hora:
Zero Hora - A universidade tem crescido em número de cursos e alunos. Como está a infraestrutura?
Carlos Alexandre Netto - A grande prioridade do mandato que se encerra foi a expansão com inclusão e qualidade. Hoje a universidade é maior na graduação, na pós-graduação, na pesquisa e na extensão e aplicamos, com sucesso, a política de ações afirmativas. Agora, o nosso grande objetivo da gestão 2012-2016 será a qualidade acadêmica, e queremos obter para a UFRGS o reconhecimento de uma universidade de classe mundial. E isso tem uma série de implicações, uma delas é a infraestrutura. Temos um volume grande de projetos em andamento. Um dos pontos altos é um prédio com 20 salas de aula no Campus Central, funcionando a partir de março de 2013. No Campus do Vale, há um novo Restaurante Universitário que deve ficar pronto no primeiro semestre do ano que vem. Das outras obras que serão realizadas no início da gestão, há ainda a casa do estudante do Campus do Vale e os primeiros edifícios do Parque Científico e Tecnológico.
ZH - O que falta para chegar a um patamar de qualidade internacional?
Netto - As universidades de classe mundial são reconhecidas como grandes universidades pela comunidade acadêmica internacional. Existe uma questão importante de visibilidade, mas também é preciso ter conteúdo. Nesse sentido, a qualidade da pesquisa é importante, a formação de pessoas, a presença internacional da universidade. O desafio é flexibilizar a formação e torná-la de acordo com os maiores centros do mundo.
ZH - O Enem tem crescido em todo o país. O exame deve se impor?
Netto - O Brasil tem feito um investimento grande em educação, e a Educação Superior avançou muito, o que deixa muito claro os contrastes em relação às dificuldades dos ensinos Fundamental e Médio. Em todos os países desenvolvidos, existe um exame nacional de avaliação no final do Ensino Médio, então é natural que o Brasil tenha o seu. A adesão das universidades não é uma imposição. Ou seja, se reconhece que as universidades têm uma tradição de exames próprios, que é o caso da UFRGS. Nós temos uma posição muito clara de que vamos continuar usando o Enem e de que vamos aumentar a participação do Enem na composição da nota. Temos, sim, a perspectiva de aumentar a participação e devemos colocar em discussão nos conselhos muito brevemente. Sabemos que o concurso vestibular é um tema muito importante para a toda a comunidade e vamos fazer tudo com a devida antecedência para que ninguém seja pego de surpresa.
Oppermann - O vestibular de 2013 já está definido. Ao longo de 2013, vai ser feita essa discussão.
ZH - Em relação à lei das cotas sancionada pela presidente Dilma, existe um plano para implantação?
Netto - O modelo que foi aprovado tem uma semelhança muito grande com o modelo que nós usamos na nossa política de ações afirmativas. Então tem uma reserva para egressos de escola pública e, no nosso caso, para autodeclarados negros dentro dessa reserva. A lei sancionada pela presidente prevê 50% para ser aplicado em quatro anos. Como nós já temos 30% , nós estamos, olhando rapidamente, dois anos a frente da implantação dessa política. Não sabemos ainda como o MEC vai definir isso, mas estamos preparados e tranquilos, não foi nenhuma novidade.
ZH - É um percentual adequado?
Oppermann - Se você pegar o número hoje de alunos que ingressam na universidade, há cerca de 50%, ou até mais, de egressos de escola pública. Neste sentido, a lei vai ter pouca incidência sobre o que já acontece na universidade. A maior diferença, que tem sido o maior debate na lei, é o critério econômico, que nós não usamos. Mas nós também não estamos muito defasados nisso, é um mito pensar que a maioria dos estudantes da UFRGS vem das classes A e B. A maioria dos nossos estudantes vem de classe média para média menor. A grande transformação que a nossa política de ações afirmativas e agora a lei estão fazendo é a presença de negros na universidade que, em alguns cursos, era praticamente inexistente.
Netto - O panorama não deve mudar muito, mas esperamos que a lei traga ainda mais recursos de assistência estudantil para dar condições que esses estudantes tenham sucesso acadêmico.
ZH - Existem novos projetos para aproximar a universidade da comunidade?
Netto - Um dos grandes projetos da próxima gestão será o florescimento do parque científico e tecnológico da universidade, porque representa toda a nossa capacidade de inovação. Hoje sabemos que isso é fundamental para o desenvolvimento do país. Nós já fazemos isso, mas com o parque vamos conseguir individualizar e reconhecer as ações de inovação e atrair novas empresas e ações de inovação científica e tecnológica. Também temos um projeto, ainda inicial, de criar um grande centro de atividades culturais na universidade na nossa área do Campus do Vale.
Oppermann - A questão do parque é muito importante porque é uma forma de interação com os meios produtivos, com a indústria, que também é extensão. O parque pretende se valer do que a universidade tem, que é a produção de ciência, para interagir com diferentes áreas do conhecimento e dar oportunidade para empreendedores jovens. Este aspecto é muito importante porque a universidade nunca teve uma política muito clara e incisiva de dar uma oportunidade aos nossos próprios estudantes para que eles criem seus próprios empreendimentos.
ZH - Há previsão de que cursos serão oferecidos no campus do litoral?
Oppermann - Temos eixos centrais para os cursos, com algumas áreas prioritárias que englobam as ciências biológicas. Já temos o curso de Biologia Marinha, queremos ampliar esse curso e trabalhar a questão ambiental. Paralelo a isso, alguns cursos na área de exatas, possivelmente engenharias, que tenham interação com a área biológica e administração. Porque administração pública, principalmente, é uma das maiores carências, não só no Litoral, mas na maior parte do interior do Brasil. Estamos discutindo ainda e tenho esperanças que a gente consiga trazer, também, a questão da administração das pequenas propriedades rurais. Estamos trabalhando também com um eixo complementar com a formação de professores para o Ensino Médio e Básico.