A persistência do sabor de terra na água fornecida em Porto Alegre coloca em questão a existência de tecnologias de remoção mais eficazes do que a adotada pelo Dmae - baseada no uso do carvão ativado, combinado com dois oxidantes. A alternativa mais citada é o ozônio.
Por essa tecnologia, que começou a ser usada para tratar água há mais de um século, na Europa, o gás é aplicado na água para desinfetá-la. Ele também elimina substâncias que dão sabor e cheiro. É, no entanto, uma tecnologia cara, que envolve instalar um gerador de ozônio dentro da estação de tratamento. O professor Sidney Seckler Ferreira Filho, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da USP, observa que o custo-benefício do carvão ativado é melhor:
- O ozônio é eficiente, mas não compensa por ser muito caro. Custa de duas a três vezes mais. Alguns países de Primeiro Mundo utilizam esse sistema, mas lá os problemas básicos da população já estão resolvidos, e eles podem se dar esse luxo.
Ferreira Filho observa que uma vantagem do carvão é que ele pode ser aplicado apenas nos momentos em que há o aparecimento de sabor na água. No caso do ozônio, investe-se em uma estrutura que fica de forma permanente na estação.
- Nenhuma companhia de saneamento faria a loucura de instalar um sistema altamente sofisticado para funcionar três meses por ano - diz.
A defesa do ozônio é feita por Fábio Rahmeier, da OZ Engenharia, empresa gaúcha que utiliza o gás em mercados como o de tratamento de efluentes. Segundo ele, mesmo que signifique um investimento alto, o ozônio compensa e teria a vantagem de ser uma tecnologia limpa.
- O carvão também não é barato. O ozônio é mais avançado. O investimento inicial é alto, mas se paga - garante Rahmeier.
Segundo Renato Rossi, diretor da Divisão de Tratamento do Dmae, o ozônio foi testado em Porto Alegre em diferentes etapas do tratamento, entre 2006 e 2010. A conclusão foi que a tecnologia não era apropriada, por fatores como as características da água bruta local e a necessidade de um espaço físico muito maior do que o exigido por outros processos.
- O ozônio é uma tecnologia viável apenas em pequena escala. Mas vamos continuar a estudá-lo nos nossos próximos testes - afirma Rossi.