O inquérito que indiciou quatro pessoas pela morte de duas crianças eletrocutadas em Jacutinga, no norte do Estado, deverá ser complementado pela Polícia Civil. O Ministério Público avaliou o inquérito enviado à justiça, e pediu novas provas que podem levar à denúncia de mais envolvidos. Quatro pessoas foram indiciadas pela morte.
Os estudantes Yuri Zulian, oito anos e Leonardo Lodea, 11 anos, brincavam com amigos em uma quadra de esportes da escola municipal Darville DallOglio, em 20 de fevereiro, quando receberam um choque de 220 volts ao tocar a tela que cerca a quadra. Eles morreram no local. Apesar do portão da quadra estar trancado, os meninos entraram na quadra por buracos existentes na cerca.
A perícia feita pelo IGP apontou que houve falha na manutenção, fazendo com que fios desencapados tocassem a cerca, eletrificando a tela. Além disso, a ligação elétrica precária saía do prédio de um clube de idosos, ao lado da escola e levava luz para o vestiário dentro da quadra.
Conforme o delegado José Angelo Marcolin, que investigou o caso, a ligação foi feita de forma clandestina, após a inauguração da quadra esportiva e não constava no projeto da obra. Por isso foram indiciados o Secretário Municipal de Urbanismo e Expansão Econômica, Vayne Pedro Valenti, e os eletricistas Osmar Paulo Nadal e Armindo Gonçalves Pinheiro, que trabalhavam na secretaria de obras e teriam feito a instalação. O diretor da escola Ivo José Facchi também foi indiciado porque segundo Marcolin, tinha responsabilidade por zelar pelo local e se omitiu, permitindo a manutenção da ligação elétrica irregular e de buracos na tela que permitiam o acesso de crianças ao local. Eles foram indiciados por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
O Ministério Público avaliou o inquérito policial e considerou necessárias novas provas a serem coletadas junto à Caixa Econômica Federal e à Rio Grande Energia (RGE). Conforme o promotor Luciano Vaccaro, é necessário avaliar se havia projeto elétrico feito por engenheiro por ocasião da construção da quadra e se houve alguma omissão do profissional que tinha obrigação de acompanhar a execução da obra.
O MP fixou prazo de 20 dias para que a delegacia de polícia complemente o inquérito. Com base nas provas coletadas pela polícia civil, a promotoria poderá denunciar as pessoas que foram indiciadas e outras que considerar responsáveis pela situação que levou à morte das crianças, ou então arquivar o caso.
O delegado Marcolin ainda não recebeu a requisição do Ministério Público e deve providenciar as provas solicitadas pelo promotor. O laudo definitivo do IGP também não foi entregue ainda à polícia para ser anexado ao processo.
CONTRAPONTO
O que diz Ivo José Facchi, diretor da escola:
" O que ocorreu foi uma fatalidade que ninguém esperava, e foi fora do horário escolar, nas férias, eu não tenho responsabilidade. A manutenção do local não cabia à escola, mas à prefeitura".
O que diz Osmar Paulo Nadal, servidor municipal:
"Como funcionário público a gente é mandado, não posso ser culpado se cumpro as ordens que recebo".
O que diz o secretário municipal de Urbanismo e Expansão Econômica Vayne Pedro Valenti:
" Não tenho conhecimento de quem fez esta ligação elétrica, só sou responsável pela iluminação pública, me pedem para trocar uma lâmpada eu libero a troca, mas se tem um fio desencapado não tenho como saber, como olhar tudo na cidade".
O que diz o eletricista aposentado Armindo Gonçalves Pinheiro:
" Aquilo foi uma tragédia que não sei até hoje a quem cabe. Fomos mandados pela prefeitura, a fazer a instalação provisória, só para fazer uso em um evento e logo em seguida devia ter sido retirada. Eu me aposentei em seguida, e ainda antes de sair, alertei eles que tirassem a instalação. Eu nem sei se os cabos que foram retirados agora pela perícia eram os mesmos que eu instalei, porque não me chamaram para ver. Tenho dois anos que também brincavam naquela quadra, foi uma grande tragédia perder os meninos assim".