W.E. - O Romance do Século, filme dirigido pela cantora Madonna que estreia hoje, começa confuso, com sequências situadas em várias épocas e lugares.
Aos poucos percebe-se que as histórias paralelas são duas, e que a dificuldade está em entender que muito do que se vê foi vivenciado pela mesma personagem: Wallis Simpson (1896 - 1986).
Em 1937, Wallis se separou do segundo marido para casar com o rei britânico Edward VIII (1894 - 1972), o que chocou a sociedade britânica do pré-II Guerra e, especialmente, a família real, que não aceitou a união com uma socialite americana duas vezes divorciada. O monarca foi forçado a abdicar do trono para oficializar a relação, e acabou sucedido por seu irmão George VI - o rei gago de O Discurso do Rei. No início de W.E., vemos flashes da vida pregressa de Wallis, intercalados com a história atual de Wally (Abbie Cornish), uma nova-iorquina assim batizada em homenagem a Mrs. Simpson, depois convertida em Duquesa de Windsor.
Aos poucos tudo fica claro, graças às simplificações - algumas grosseiras - do roteiro escrito por Madonna em parceria com Alek Keshishian (de Amor e Outros Desastres). Forçada a abandonar a carreira para se dedicar ao casamento, a Wally contemporânea é oprimida pelo marido (David Harbour), às vezes com violência, assim como Wallis Simpson o foi em décadas anteriores. Obcecada pela história de Wallis, Wally passa seus dias na Sotheby's, onde estão expostos objetos do célebre e polêmico casal - as imagens que registram o encontro do dois mundos, como se pode prever, servem como recurso narrativo para a passagem entre uma época e outra.
Andrea Riseborough e James D'Arcy, que interpretam Wallis e Edward - o título faz referência às primeiras letras de seus nomes, que formam a palavra "we", "nós" em inglês -, estão bem em seus papéis. A recriação de época, com atenção especial aos figurinos (indicados ao Oscar), também funciona plenamente. O problema de W.E. é a incapacidade de entendimento da complexidade da história de Wallis e Edward.
Tudo, aos olhos de Madonna, parece ser uma questão de gênero. É como se a diretora transportasse a sua persona para as personagens - a própria incorporação de uma trama contemporânea é uma muleta para fazer valer uma síntese rasa dos acontecimentos, que privilegia seu viés feminista. Contrariando o que dizem os historiadores, a diretora transformou a simpatia do casal por Hitler e o nazismo em algo menor, inocentando seus heróis, e até George VI se tornou totalmente submisso à mulher - como se entre a gagueira e a omissão não houvesse uma longa distância.
Wallis foi uma grande e inspiradora mulher. Não era preciso forçar a mão para fazer o espectador entender isso.
W.E. - O Romance do Século (W.E.)
De Madonna.
Com Abbie Cornish, Andrea Riseborough, James D'Arcy, Oscar Isaac, Richard Coyle e David Harbour.
Drama, Grã-Bretanha, 2011. Duração: 120 minutos. Classificação: 16 anos.
Estreia nesta sexta-feira.