Morreu neste domingo em São Paulo, aos 74 anos, o diretor de teatro e ator Fernando Peixoto, um dos grandes nomes das artes cênicas do Brasil. Nascido em Porto Alegre, em 1937, ele vivia desde o início da década 1960 em São Paulo, onde desenvolveu trajetória também como tradutor, pesquisador, escritor e dramaturgo.
Peixoto estava hospitalizado desde dezembro para tratar um tumor no intestino. O corpo será cremado nesta segunda-feira, em São Paulo.
Antes de se mudar para São Paulo, na companhia de sua então mulher, a atriz gaúcha Ítala Nandi, Peixoto trabalhou em Porto Alegre como ator e crítico cultural. Na capital paulista, ligou-se ao Teatro Oficina, de Zé Celso Martinez Corrêa, primeiro como ator e, a partir dos anos 1970, também como diretor. No auge da repressão da ditadura militar, Peixoto foi uma das vozes mais combativas do meio artístico contra o autoritarismo e a censura.
Entre seus principais trabalhos como diretor estão Um Grito Parado no Ar, que lhe valeu em 1973 o prêmio da APCA, e Ponto de Partida, peças de Gianfrancesco Guarnieri, Calabar, com texto de Chico Buarque e Ruy Guerra, estetáculo proibido dias antes da estreia (ele retomaria a montagem em 1980), Mortos sem Sepultura, de Jean-Paul Sartre, em 1977, e Terror e Miséria do III Reich, de Bertolt Brecht. Também dirigiu, nos anos 1980, adaptações de óperas como O Navio Fantasma, de Wagner, Lo Schiavo, de Carlos Gomes, e Madame Butterfly, de Puccini.
O trabalho como crítico e ensaísta iniciado na Capital teve continuidade com textos nos quais Peixoto mostrava tanto sua inconformidade contra a repressão quanto seu vasto conhecimento teórico sobre o teatro. É autor, entre outros, dos livros Brecht, Vida e Obra, Maiakóvski, Vida e Obra, O Que É Teatro, Brecht: Uma Introdução ao Teatro Dialético Teatro Oficina: Trajetória de uma Rebeldia e Teatro em Aberto, este o seu último, publicado em 2002.
Peixoto teve ainda uma relevante participação no cinema brasileiro, atuando em filmes como A Queda, de Ruy Guerra, Doramundo e O Homem do Pau-Brasil, ambos de João Batista de Andrade, Eles Não Usam Black-Tie, de Leon Hirszman, O Beijo da Mulher Aranha, de Hector Babenco, e Faca de Dois Gumes, de Murilo Salles.
Neste domingo, o Ministério da Cultura, que tem com titular Ana de Hollanda, que foi dirigida por Peixoto em espetáculos nos anos 1980 e 1990, emitiu nota de pesar pelo pelo falecimento:
"O Brasil acaba de perder um dos maiores pensadores de teatro, o diretor, ator, escritor e professor Fernando Peixoto. Suas reflexões sobre o teatro internacional e sua contribuição ao teatro brasileiro na segunda metade do Século 20 foram fundamentais. Ele manteve até o fim da vida a relação de apoio e orientação aos novos atores, diretores e grupos. O Ministério da Cultura sente profundamente esta perda.
Aos familiares, amigos, aos muitos admiradores e a toda a comunidade do teatro, meu abraço solidário."
Vitor Ortiz,
Ministro Interino de Estado da Cultura