Desde que João Barbosa Coelho e outros cerca de 20 rio-grandinos fundaram o Gabinete de Leitura da cidade o local deixou de ser um simples centro para ler e passou a ser um enorme acervo de livros. Com a mudança para o atual prédio, após um período sem casa fixa, instalou-se no coração do município, tendo como vizinhos a prefeitura, a Alfândega, o Mercado Público, e, principalmente, o cais do Porto.
Ainda que não seja voltada especificamente a um tema, a relação de Rio Grande com as águas também está refletida na Bibliotheca, que possui uma ala dedicada à literatura náutica. O local é batizado de Sala Almirante Tamandaré, patrono da Marinha e filho da cidade. Além dele, há outros homenageados: Abeillard Barreto, Silva Paes e Agostinho José Lourenço também emprestam seus nomes aos ambientes, voltados às histórias do Estado e do Brasil.
Para manter o prédio os gestores contam apenas com uma verba fixa é de R$ 5 mil mensais - obtidos com os R$ 10 pagos pelos 500 sócios. Doações de empresas e do Ministério Público completam a renda para manter o local em funcionamento.
- Mesmo que seja carinhosamente chamada de biblioteca pública, somos uma instituição privada. E até graças a isso, conseguimos manter uma certa independência das questões políticas. Mas precisamos de mais associados para sobreviver - conta o vice-diretor da Bibliotheca, Francisco das Neves Alves. As altas cargas de impostos, especialmente referentes ao terreno de Marinha, ocupado pelo prédio, são a principais despesas.
Para o secretário Cultura do Estado, Luiz Antonio de Assis Brasil, o fato de ser privada aumenta mais o mérito de seus curadores.
- Ela é um exemplo a ser seguido. É uma referência cultural para o país. Seus administradores fazem um verdadeiro milagre ao conseguir conservar o vasto acervo - diz.
Apenas duas pessoas fazem parte do quadro de funcionários. O restante é composto por bolsistas cedidos pela prefeitura e pela Furg e por voluntários. São eles que zelam pelo arquivo mais completo do Rio Grande do Sul. A própria história do Estado, separada em mais de 450 mil volumes, divididos em quatro andares de estantes. Há 165 anos.
Curiosidades
- A Bibliotheca Rio-Grandense é uma instituição privada. Ainda que seja chamada na cidade de biblioteca pública, nunca mudou seu estatuto e, desde a origem, manteve-se alheia a governos.
- Entre suas obras mais raras, destaque para A Flora Brasiliensis, uma obra de 15 volumes que trata das plantas brasileiras, produzida na Alemanha, com a participação de 65 especialistas de vários países, que cita mais de 22 mil espécies no Brasil.
- Toda a história de Rio Grande pode ser consultada. A Bibliotheca mantém um acervo completo de todos os jornais da cidade. Publicações estaduais também tem coleção praticamente sem falhas.
- Entre seus mais ilustres pesquisadores está o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele consultou livros sobre a história da escravidão no Brasil meridional para seu trabalho de conclusão em sociologia e assinou seu nome no caderno de visitas.
- O local é cercado pelos principais pontos turísticos da cidade: a praça Xavier Ferreira, a prefeitura, o prédio da Alfândega, o Mercado Público e as docas de peixe circundam a Bibliotheca. Ao fundo, o cais do Porto Velho garante o pôr-do-sol da Lagoa dos Patos.
- Mas há também o lado negativo da localização. Por estar próxima ao Porto, a biblioteca precisa pagar um imposto federal referente ao chamado Terreno de Marinha, para construções em locais até 33 metros da costa.
> Em vídeo, faça um passeio pela Bibliotheca Rio-Grandense e veja imagens da obra A Flora Brasiliensis
- Mais sobre:
- geral