Alunos que se matriculam em cursos superiores e são aprovados sem que suas provas sejam corrigidas. Profissionais despreparados sendo lançados no mercado. O caso estaria ocorrendo no ensino à distância da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Há cerca de um ano, a Ulbra estaria lançando notas no sistema sem a análise das provas. A denúncia apresentada à Polícia Federal é de um ex-funcionário de instituição, que prefere não se identificar.
O homem fazia parte dos quadros da Ulbra até semana passada, quando foi demitido. De acordo com ele, as provas não corrigidas são do tipo dissertativas, em que os alunos escrevem as respostas. Elas possuem peso maior na composição final da nota, que também leva em conta o desempenho dos universitários em questões de múltipla escolha. A reportagem da RBS TV obteve imagens da sala onde estão armazenadas centenas de provas que estariam sem correção. O denunciante ressalta:
- Passaram a atribuir simplesmente notas aos alunos, sem qualquer correção das provas por parte dos professores.
A reportagem teve acesso à várias provas não corrigidas. Em duas delas, da disciplina de Pedagogia Social, do curso de Pedagogia, foram identificados erros grosseiros de escrita. As provas não foram corrigidas, mas nos históricos as universitárias aparecem aprovadas. Elas eram estudantes de um pólo do interior do Mato Grosso. O professor de português e escritor Paulo Ledur examinou as duas provas. Em apenas uma resposta, encontrou 15 erros:
- Evidentemente que não se poderia dar nota melhor que zero.
Mesmo assim, as duas alunas obtiveram aprovação no curso de Pedagogia, com notas superiores a seis nos respectivos históricos. Garantem que não receberam os resultados das avaliações. Hoje, as pedagogas dão aula no ensino fundamental em escolas do interior do Mato Grosso. São professoras:
- Se eles tivessem devolvido pra nós estas provas, poderíamos ter corrigido.
Com base no depoimento do ex-funcionário, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão no setor de ensino à distância da universidade, na sexta-feira passada. Foram apreendidos três malotes de provas.
A falta de correção das avaliações estaria resultando em descontrole até na composição das listas de formandos. A reportagem teve acesso a um e-mail enviado pela coordenadora de uma escola conveniada à Ulbra, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, pedindo à universidade que excluísse da ata de formatura os nomes de dois alunos. Na mensagem, explica que esses universitários desistiram da faculdade no segundo módulo. Ou seja, estariam se formando sem que sequer estivessem estudando.
A Ulbra, que possui 90 mil alunos no ensino à distância, garante que o erro já foi corrigido e que os nomes dos alunos foram retirados da lista de formandos. A universidade promete investigar a denúncia do ex-funcionário, mas nega haver determinação para que as provas não fossem corrigidas, como explica o assessor jurídico da instituição, Jonas Dietrich:
- Será feita uma força tarefa para verificar se houve eventualmente algum tipo de situação que escapou o controle e estas serão corrigidas de forma eficiente e pontual.
A Ulbra possui 278 polos espalhados pelo país. Em 2009, a universidade assinou um termo de saneamento de deficiências do Ensino à Distância com o Ministério da Educação, em que que diversas exigências deveriam ter sido cumpridas.
Ulbra estaria aprovando estudantes de ensino à distância sem correção de provas
Caso ocorreria em diversos Estados brasileiros
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