Símbolo da luta contra o câncer, o ex-vice-presidente José Alencar ganhou o carinho e o respeito dos brasileiros pela capacidade de manter o bom humor e o otimismo mesmo nos momentos mas difíceis do combate à doença. Empresário bem sucedido e exemplo de superação, ele morreu nesta terça-feira às 14h41min por falência múltipla de órgãos.
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Ao longo de 13 anos, o político resistiu a pelo menos 16 cirurgias e a sucessivos tratamentos contra o câncer, problemas de vesícula e coração. Mas nesta terça, após ter sido internado às pressas na última segunda-feira, com quadro crítico de obstrução intestinal, o ex-vice-presidente José Alencar, de 79 anos, sucumbiu.
Cirurgias em série não abalaram humor e fé
Em meio a sucessivas internações para realização de cirurgias e tratamentos, a passagem de José Alencar pela vice-presidência da República foi marcada por uma característica: o bom humor. Em agosto de 2008, após saber que o câncer havia retornado, o mineiro creditava sua força à fé em Deus. Em entrevista a Zero Hora, fazia planos para depois do fim do mandato. Quem sabe se candidatar a vereador na cidade natal?
Do hospital, no dia seguinte a uma de suas últimas cirurgias, fez um pedido. Queria ver TV, saber tudo o que estavam falando a seu respeito. Se mostrava otimista e bem disposto.
Antes, em janeiro de 2008, ao deixar o hospital após uma sessão de quimioterapia, Alencar adotara um raro tom de gravidade ao falar sobre sua saúde:
- Rezem por mim. O negócio está feio. Estou satisfeito porque sou assim mesmo, mas que a coisa é preta, é.
O ex-vice descobriu que tinha câncer em 1997, quando, após um check-up, foi encontrado um tumor no rim direito e outro no estômago, retirados naquele mesmo ano. Em 2000, uma nova cirurgia retira um tumor na próstata. Depois da retirada de outros nódulos, agora no abdômen, Alencar é diagnosticado com câncer no intestino. Em janeiro de 2009, enfrentou cerca de 17 horas de operação para a retirada de nove tumores na região abdominal.
Submetido a um tratamento experimental contra o câncer nos Estados Unidos, Alencar foi informado que os tumores existentes na região abdominal voltaram a crescer. Sem saída, o ex-vice retomou as sessões de quimioterapia. Teve de suspendê-las por problemas renais, em novembro.
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A paixão pela política
Embora tenha sido um empresário de expressão nacional, foi em sua incursão pela política que se tornou um nome conhecido da opinião pública.Como vice na chapa do operário Luiz Inácio Lula da Silva, acabou com o que chamava de "risco petista", moderando a imagem de sindicalista do então candidato à Presidência em 2002.
Em 2006, na campanha pela reeleição de Lula, ficou chateado por ter sido um plano B no rol de escolhas do petista para companheiro de chapa. Em junho do ano da reeleição, dois dias antes do anúncio oficial da dobradinha, Lula desistiu de insistir em atrair um parceiro do PMDB.
Escolhido candidato a vice na última hora, Alencar teve uma convivência pacífica com o presidente - mesmo tendo se notabilizado pelas críticas à política monetária do governo, em seus primeiros tempos. O empresário mineiro discordava insistentemente das altas taxas de juros.
- Ele não pode me demitir, então falo com absoluta isenção e independência. Eu e Lula nos entendemos muito bem, ele sabe dessa minha encrenca com relação aos juros - disse em dezembro de 2007.
Crítico feroz da política econômica do antecessor de Lula, Fernando Henrique Cardoso, Alencar chegou a recusar convite de FH para ser ministro. Considerava um "péssimo negócio" a política de privatizações realizadas pelo tucano. A Vale do Rio Doce foi privatizada por um "preço ridículo", costumava dizer.
Alencar e o presidente Lula se aproximaram em 2000. Na época senador pelo PMDB e empresário, Alencar comemorava 50 anos de suas indústrias.
- Depois da festa, eu o convidei para um jantar. Penso que foi naquele jantar que houve uma primeira vontade de ele me convidar para ser seu vice - contou Alencar a Zero Hora em 2002.
Dono de uma fortuna de mais de R$ 1 bilhão, o ex-vice teve uma infância pobre. Seus pais moravam num povoado às margens do Rio Glória, no município de Muriaé, Minas Gerais. Ainda criança, começou a ajudar o pai em uma loja e, aos 15 anos, já havia sido empregado de uma lojinha de tecidos. Contou com a ajuda de um irmão para montar seu próprio negócio, a loja A Queimadeira, nos anos 50.
Chegou a mudar de ramo, o de cereais, mas a partir de 1963 transformou a empresa de um irmão em um império formado por 11 fábricas. O conglomerado é puxado pela Coteminas, um dos maiores grupos têxteis do país, fabricante de lençóis, meias, camisetas e toalhas de marcas conhecidas como Artex e Santista.
Trajetória pessoal foi marcada por superação
Autodidata, estudou somente até a 4ª série do Ensino Fundamental, Alencar passou o comando dos negócios para o filho caçula, Josué Christiano, pensando em voltar a estudar - queria fazer vestibular ou aprender idiomas no Exterior.
Resolveu disputar o governo de Minas, em 1994. Sem sucesso, ele não desistiu da política. Desembolsou R$ 3,9 milhões (valores declarados) para se eleger senador em 1998 - uma quantia semelhante à declarada por Lula na campanha presidencial daquele ano. Obteve quase 3 milhões de votos.
Relembre a trajetória do ex-vice-presidente José Alencar
Empresário de sucesso, ficou conhecido pela parceria de oito anos com o presidente Lula
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