Para a atleta paranaense Flávia Maria de Lima, 31 anos, o atletismo nas Olimpíadas representa mais do que o sonho de uma medalha. Após estrear nos 800 metros livre nesta sexta-feira (2), a meio-fundista disse a Zero Hora que os Jogos representam para ela uma oportunidade para inspirar as mulheres brasileiras na luta contra o machismo.
Nos últimos dias, Flávia compartilhou nas redes sociais que vive uma disputa judicial com o ex-marido pela guarda da filha de seis anos. Segundo a atleta, o pai da criança utiliza como argumento no processo as frequentes viagens feitas pela paranaense para participar de competições.
— Estar aqui é a minha maneira de dizer não ao sistema opressor do homem. Estar nesta Olimpíada é a minha forma de dizer para todas as mulheres que elas não podem se anular em meio às adversidades e às dificuldades da vida — afirmou, logo após concluir a classificatória dos 800 metros, no primeiro dia de provas de pista no Stade de France.
Flavia mencionou ainda o ouro conquistado nesta sexta (2) pela judoca Beatriz Souza e a presença de mais mulheres do que homens na delegação brasileira nesta edição das Olimpíadas como sinais de que o engajamento feminino na luta contra o machismo está aumentando no Brasil.
— A maior presença de mulheres já demonstra que as mulheres estão entendendo que elas têm um poder muito grande se elas acreditarem em si mesmas. Acho que o que está acontecendo nessa Olimpíada já diz por si só que a gente está acordando — completou.
Natural de Campo do Tenente, cidade de 8 mil habitantes no sudeste do Paraná, Flávia contou ainda que um telão foi instalado na sua cidade-natal para que familiares e amigos acompanhassem a prova. Ela acabou terminando em sexto lugar e disputará uma repescagem neste sábado (3).
Procurada por Zero Hora, a defesa do ex-marido afirma que não tem interesse em se manifestar, pois o processo tramita em segredo de Justiça. "Questão privada. Não temos comentários a tecer fora do processo."
Mensagem de Flávia nas redes sociais
Confira abaixo o depoimento feito nesta semana por Flávia através da sua conta no Instagram a respeito do impasse com o pai de sua filha.
"Em toda competição que eu participava, ele protocolava no processo uma tentativa de tirar a guarda da minha filha, tentando me desestabilizar. Ele também está utilizando os Jogos Olímpicos para tentar tirar a minha filha de mim, como se fosse um crime uma mulher ter uma carreira, uma profissão e uma mãe ter que viajar para poder trabalhar. Abri mão de muitas competições para não ficar longe da minha filha, para não ter mais protocolizações no processo judicial com a minha carreira, com as competições. Mas não desisti do sonho olímpico, porque sei que ir para a Olimpíada vai mudar a minha vida e a da minha filha. Estou aqui por nós duas, em busca de coisas que eu nunca alcancei em minha vida por ter uma pessoa que estava sempre me atrasando. Eu vim com medo para a Europa, medo de perder minha filha. O amor que eu tenho por ela é imenso, mas eu vim por nós duas. Eu não vim a passeio, a lazer. Eu vim a trabalho, em busca de coisas melhores para mim e para ela."