
Em setembro do ano passado, o ministério de Esportes da França, através da ministra Amélie Oudéa-Castéra, determinou que o uso de símbolos religiosos durante os Jogos Olímpicos de Paris seria proibido. A restrição inclui o véu islâmico, ou Hijab, vestimenta utilizada para mulheres mulçumanas.
A justificativa do comitê olímpico francês para tomada de decisão seria a incompatibilidade das representações religiosas com a laicidade do país, que defende a neutralidade religiosa em espaços públicos.
Com a regra, que atinge treinadores e atletas, diversas mulheres foram impedidas de competir pela França. É o caso da jogadora de basquete Diaba Konate, 23 anos.
Ela construiu sua carreira nos Estados Unidos e retornou ao país no ano passado para jogar um torneio. Foi então que descobriu que não poderia entrar em quadra utilizando o véu.
— É muito hipócrita da parte da França se autodenominar o país da liberdade, dos direitos humanos, mas ao mesmo tempo não permitir que os muçulmanos ou seus cidadãos mostrem quem são — disse Konate em entrevista à BBC.
Ela esperava representar seu país nos Jogos olímpicos de Paris, mas não teve chance porque se recusou a tirar o Hijab.
Algo semelhante aconteceu com a corredora francesa muçulmana Sounkamba Sylla. Ela faz parte da equipe de revezamento de 400 metros e relatou em uma rede social que estava sendo impedida de participar da abertura dos Jogos por utilizar o Hijab.
"Você é selecionado para os Jogos Olímpicos, organizados no seu país, mas não pode participar da cerimônia de abertura por usar um lenço no cabelo”, escreveu Sylla em sua conta no Instagram.
Entretanto, de acordo com a Folha, o governo francês e a atleta entraram em acordo e ela irá participar do desfile usando um boné, para prender um pedaço de pano e assim cobrir os cabelos, como uma substituição do véu.
Além das atletas, ongs e ativistas criticaram a proibição do Hijab. Até memo a Organização Mundial das Nações Unidas (ONU) se manifestou contra a regra.
— O gabinete do alto comissariado para os direitos humanos acredita que ninguém deve ditar a uma mulher o que ela deve ou não vestir — disse a porta-voz do ACNUDH, Marta Hurtado, durante a conferência de imprensa regular da ONU em Genebra.
De acordo com o ge, ativistas da Aliança Sport & Rights – cujos parceiros incluem a Human Rights Watch e a Anistia Internacional – enviaram uma carta ao Comitê Olímpico Internacional (COI) e pediram o fim dessa proibição que deixa os atletas muçulmanos "excluídos e humilhados", segundo o grupo.
— As proibições de hijab nos esportes resultaram em muitos atletas muçulmanos sendo discriminados, invisíveis, excluídos e humilhados, causando trauma e isolamento social – alguns saíram ou estão considerando deixar o país para procurar oportunidades de jogo em outro lugar —pontuou a carta dos ativistas.
O COI, no entanto, respondeu que essa era uma "decisão do Estado francês" e afirmou que as restrições da França não se aplicariam a atletas de outros países.