O mês de julho está repleto de eventos no calendário francês. Com forte oposição ao presidente Emmanuel Macron, o segundo turno das eleições parlamentares se dará neste domingo, dia 7 de julho, a 19 dias da abertura dos Jogos Olímpicos, no dia 26. Trata-se de um dos fatores que dividem as expectativas dos franceses para a realização das competições.
Embora o presidente do COI, Thomas Bach, considere que as eleições não tenham impacto nos Jogos Olímpicos, a prefeita de Paris Anne Hidalgo considerou a decisão de Macron de convocar eleições em meio às Olimpíadas como “preocupante” — opinião compartilhada por vários cidadãos do país.
Em pesquisa realizada pelo instituto Elabe para o canal BFMTV em maio, só 24% dos entrevistados se consideravam entusiasmados para as Olimpíadas. Além disso, 30% expressaram ceticismo em relação ao evento e 46% se declararam indiferentes.
Preços altos
Parte das reclamações dos locais diz respeito a dinheiro — tanto ao que sairá do bolso dos parisienses pelos preços inflacionados de atrações, quanto ao que sairá dos cofres públicos para custear o evento.
— O preço para assistir as provas é muito alto. Assim, poucas pessoas conseguem assistir — coloca Thibaud Barbier, parisiense de 31 anos que mora em Porto Alegre há 3 anos.
O receio também é de que os preços altos de passagens aéreas e acomodações afete o público dos Jogos e reduza o retorno financeiro ao país. O que contraria a expectativa que o presidente Macron manifestou ao jornal L’Équipe em 2022:
— Os Jogos devem financiar os Jogos.
Protestos e segurança
A segurança é outro fator de receio para Paris 2024. Para Jean-Baptiste Faby, parisiense de 42 anos que vive em Porto Alegre desde o começo de 2023, os Jogos Olímpicos representam incerteza para seu país de origem. Se o evento for um sucesso, será positivo para a exposição da França no cenário mundial. Porém, dadas as eleições que tomaram o país de surpresa, Faby teme repercussão no caso de vitória da extrema-direita de Marine Le-Pen.
— Vai haver protestos, o que pode ser um problema para segurança, o que se soma aos problemas que nós já tínhamos — analisa Faby.
Segundo a BBC, o projeto de segurança apresentado pelo governo francês conta com 40 mil policiais e 20 mil soldados, que participam do que Tony Estanguet, um dos chefes dos Jogos, chamou de uma operação “sem precedentes”. Algumas áreas centrais só poderão acessadas após cadastramento com as autoridades.
Polêmicas recentes envolvendo a preparação da "Cidade Luz" para os Jogos também chamam a atenção dos franceses. Episódios como a realocação de moradores de rua, a suspensão de um auxílio moradia para estudantes e o insucesso na limpeza do Sena para as provas aquáticas incomodam parisieses como Thibaud Barbier:
— Um ano e meio que estão tentando limpar o Sena e não conseguem. Ainda é muito nojento, é uma vergonha para os parisienses de ver isso.
Orgulho em sediar os Jogos
Por outro lado, há aqueles que se deixam entusiasmar pelo clima olímpico. Ainda segundo a pesquisa do Instituto Elabe, 52% dos entrevistados se sentiam orgulhosos pelo fato de a França ser a sede dos Jogos. O diretor da Aliança Francesa em Porto Alegre, Jean-Luc Puyau, de 56 anos, entraria nesta estatística.
— É um evento que deixa o país na mira do mundo. Claro que é um momento muito bonito. É pleno verão lá na França, ao contrário daqui — avalia o diretor, que é natural de um vilarejo no sudoeste francês. — É um momento de alegria, momento de calor, momento das pessoas quererem sair para a rua e acompanhar e momento festivo — completa.
Parte da organização de eventos de transmissão das Olimpíadas em Porto Alegre e de cursos da língua francesa, Puyau está otimista para os Jogos. Para ele, os embates no governo não devem interferir nas Olimpíadas de Paris.
— As Olimpíadas não são um evento político, são um evento esportivo — considera.
*Produção: Fernanda Axelrud