Não teve brasileiro que almoçou olhando a luta pelo bronze de Rafael Macedo em Paris e não parou a refeição para xingar o árbitro Vyacheslav Pereteyko. Nos instantes finais do embate contra o francês Maxime-Gael Ngayap Hambou, o judoca da Sogipa foi punido e eliminado da luta a cinco segundos do fim.
Enquanto o francês foi para a arquibancada comemorar com a torcida, restou indignação no lado brasileiro. A punição demorou a ser entendida e foi divulgada no site oficial das Olimpíadas de Paris como "indeterminada".
Porém, especialistas da comunidade do judô consultados por Zero Hora concordam com a decisão do árbitro uzbeque. O shidô foi aplicado, pois Macedo aplicou uma chave de perna antes de ter o controle do braço do adversário. Como tinha recebido outras duas penalidades anteriormente, ele perdeu a luta.
"Aplicar tesoura com as pernas no tronco do oponente (do-jime), pescoço ou cabeça (tesoura com os pés cruzados), enquanto estende as pernas. Em shime-waza (por exemplo, ryote-jime) é proibido usar as pernas cruzadas para auxiliar a pegada".
Porém, o regulamento é contestado por judocas.
— É uma regra que precisa ser melhor avaliada, entender por que é um shidô. É por que machuca? Há outras coisas no judô que são mais perigosas, como os triângulos que vêm pelas costas, que pega a cervical. Essas posições, eles dão simplesmente um matê — opina judoca Aléxia Castilhos, da Sogipa.
Ainda sem compreender muito a eliminação, Macedo optou por contemporizar.
— Dei o meu máximo. Saio triste, mas sei que dei tudo de mim.
O chefe de equipe da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Marcelo Theotonio, foi à comissão de arbitragem ao final da competição para entender o terceiro shidô a Rafael Macedo. Não existe recurso no judô, ou possibilidade de alteração, revisão de resultado. Apenas o protocolo de esclarecimento junto à comissão de arbitragem.
— Realmente ficou confuso, não entendemos a punição. Inicialmente, entendemos que ele tinha dado punição por pegar dentro do quimono. Não foi isso. Quando fomos até a mesa conversar com os responsáveis pela arbitragem, essa posição, quando você pressiona só a cabeça, é realmente considerado matê e shidô. Seria esse último ponto que o Rafael sofreu. O duro é que tem um guia que mostra uma situação um pouco diferente. Mas ali eles abriram um outro guia, com uma regra mais atualizada, e mostra que é shidô. É uma pena, lamentável — disse Theotonio.